Eu
era pesquisador do Rock. Pesquisava
grandes bandas e grandes nomes como
Grand Funk, Deep Purple, Led Zeppelin, Emerson, Lake, Palmer, Pink Floyd, Dire
Street, The Beatles. Eu tinha dois amigos, que a gente se dava
muito bem, o Durvalino Couto Filho, músico, baterista e compositor, e Edvaldo
Nascimento, músico, guitarrista, compositor e cantor. A gente se encontrava,
trocava ideias, fazia um som. E um dia, o Durvalino Couto Filho sugeriu a
criação de uma banda de rock pesado. Nesta época, salvo engano, ele estava de namorico com a Naire Villar, filha do maestro Reginaldo Carvalho, e sugeriu que ela fosse a cantora da banda, mas não vingou, não sei a razão. No começo não foi fácil. Eu já era
guitarrista da pesada, o Durvalino Couto Filho era baterista dos bons. Mas, o
Edvaldo Nascimento tocava violão e precisávamos de um baixista. Depois, para
tocar rock não é qualquer um que toca, precisa ter um sentimento, uma pegada
boa. O Edvaldo Nascimento passou a ensaiar e chegou a um momento em que ele já
tocava contra baixo como um gigante. Achamos que era a hora de formar a banda.
Precisávamos do nome. O Durvalino Couto Filho sugeriu Banda da Cidade Verde. Eu
era estudante de inglês – hoje sou professor, então, eu dei o lance de
americanizar o negócio, ficando The Green City Band. Apesar de ser uma época da
ditadura brava, veja bem, nós passamos a ensaiar nos fundos do Quartel do
Exército, do 25 BC. Tudo isto porque eu tocava no Bec Boys e tinha um filho do
comandante, o Stanley Júnior, que era cabeludozão e gostava de rock. Ele tocava
pouco violão, mas era muito apreciador de música, principalmente rock. Então,
ele pediu ao coronel Stanley que fizéssemos os nossos ensaios lá. O Bec Boys
ensaiava pela manhã, e passamos a ensaiar à tarde. Inicialmente, o Bec-Boys
era formado apenas por militares e se apresentava única e exclusivamente nas
solenidades deles lá. Contudo, com a vinda do coronel Stanley, um militar mais
aberto e que gostava muito de arte e cultura, novos músicos foram incorporados
ao Bec-Boys, que passou, inclusive, a atender pedidos para apresentações
em clubes e outros palcos da cidade. O cabo Lima (falecido em sua terra natal,
Fortaleza) era o responsável e o cantor do Bec-Boys, que tinha, ainda,
como músicos o Almir Marques (contra baixo), eu (voz e guitarra), Zezinho
Ferreira (teclados), Pantico (sax), Bossa (piston), e o Crisnamurte (bateria),
que se casou com a Rosinha Freire, também cantora do Bec Boys, inclusive ela cantou a música do José
Luís Santos e foi a melhor intérprete do
IV Encontro Nacional do
Compositor de Samba, realizado na Vila
Isabel, no Rio de Janeiro, em 1975. Quando o José
Luís Santos começou a cantar, a Lena Rios, a nossa Barradinha, que estava perto
notou que faltava alguma coisa, então empurrou a Rosinha Freire para o palco e esta,
sem perder o rebolado, o fez mudar o tom pra que ela pudesse cantar. Foi um
delírio! O público aplaudiu de pé a cantora que vaiara antes, na eliminatória. A
Rosinha Freire foi considerada a melhor intérprete do IV Encontro, que
teve o seguinte resultado: 1° lugar geral do Festival: Siriê (Edil
Pacheco); 1° lugar dos Estados visitantes: Melhor pra quem sorrir no final (José
Luís Santos, do Piauí); 1° lugar em popularidade: Velha Baiana -
Mariana (Rodolfo, Irani e Brasão, interpretada por mim, num banho de
popularidade total); Melhor intérprete do Festival: Rosinha Freire (com Melhor
pra quem sorrir no final, do José Luís Santos). Fizeram
parte da Comissão Julgadora do IV Encontro Nacional do Compositor de Samba nomes
como Cartola e Nelson Cavaquinho, Ricardo Cravo Albim, Leci Brandão e outros. O Carlos Martins, na sua coluna do jornal carioca
O Dia, destacou: “Numa noite tipicamente carioca só deu o Piauí”. Rosinha
Freire, agora reconhecida, foi convidada para gravar um LP pela Polygram/Philips.
Ela foi convidada, também, para fazer parte do Corpo de Baile do Sargentelli,
como uma de suas mulatas, tal era a beleza que a morena piauiense ostentava. Eu
me lembro, nitidamente, da Rosinha cantando Melhor pra quem sorrir no final:
Quem
destruiu nosso amor foi você
Quem
me deixou no chão foi você
Quem
feriu meu coração nem digo
Pois
você sabe mais do que eu
Essa
vida só dá colher de chá
A
quem se ocupa de fazer o mal
Você
pode até gargalhar, meu amor,
Mas
rir melhor quem sorrir no final.
O Colombo também fez parte
do Bec Boys. Bem, o Stanley Júnior passou, também, a ser uma espécie de
empresário da gente. Passamos a fazer muitos shows em clubes, em residências, e
no Auditório Herbert Parentes Fortes, que era o lugar da época, porque o
Theatro 4 de Setembro não tinha condições. Depois foi que o governador Alberto
Silva (1971 a 1975) fez uma grande reforma nele e ele passou a ser, novamente,
a nossa principal casa de espetáculos. Fazíamos shows nas escolas, no auditório
da Escola Técnica Federal (hoje INFPI). A gente ganhava bem. Recebíamos cachês
muito bons. Às vezes, era por bilheteria, mas dava bem também. O coronel
Stanley foi embora, porque eles só passam dois anos em cada lugar, mas o comandante
que entrou depois deixou que continuássemos a ensaiar lá. Ele também gostava de
rock. Acho que se chamava Carlos, um cara super legal. A banda durou, mais ou
menos, três anos, de 1974 a 1976.
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