segunda-feira, 25 de junho de 2012

Magia dos presentes

Geraldo Borges e Salgado Maranhão, no Salipi.
Foto de Paulo Tabatinga.


Minha mãe ganhava presentes em seu aniversário, no Natal, e em outras datas significativa, inventadas e consagradas pelo comércio, como por exemplo, o dia das mães. Tinha cinco filhos mulheres sexo mais inclinado a dar presente. Eu não me lembro, sinceramente, que tenha dado algum dia um presente a minha mãe. As únicas coisas que lhe dei na vida foram trabalho, preocupação e sofrimento, e isso não se embrulha em papel de seda nem e se enfeita com laço de fitas. Comecei a me dar conta de que, os presentes que minha mãe recebia, começaram a abarrotar a sua casa. Mais uma televisão, um jogo novo de sofá, liquidificador, garrafa térmica, mesa. Tudo isso poderia até servir. Mas destoavam os moveis antigos que constituíam a paisagem domestica. O certo é que se fazendo uma vistoria nos objetos que minha mãe recebia de presente dava para se montar uma nova casa. Eram tantos presentes que iam se acumulando pelos cantos sem serventia, apenas enfeitavam, e precisavam ser espanados todos os dias.

Minha mãe já nem agradecia os presentes. Começaram a lhe dar cortes de tecidos; alguns eram aproveitados; a. maioria ficavam amontoados no seu guarda – roupa, mofando. Minha mãe era uma mulher caseira, que sabia fazer renda em almofada de bilros, remendar roupa e todo mais que dignificasse uma casa antiga, Quando casou no interior, começou sua vida morando em uma casa de palha, com uma sala, uma camarinha e uma cozinha com duas trempes,dois potes e duas redes

Minha mãe ganhou muitos vidros de perfumes; gostava de se perfumar depois do banho, Mesmo assim não dava conta de esvaziar vidros de perfumes que ia se acumulando na sua velha cômoda que nunca foi trocada. A minha mãe começou a ganhar sapatos em pencas. Não precisava ir as lojas para experimentá-los. Acho que não abria nem as caixas. Botava-os em cima do guarda roupa. Tinha presentes amontoados que dava para inaugurar uma butique.

Quando minha mãe morreu, os presentes tomaram vulto, e talvez tenham passado para as mãos dos mesmos presenteadores. Eu não estava presente no seu passamento. Nem este presente eu lhe dei. Quando cheguei para a visita do sétimo dia, o único e presente possível que lhe dei foram velas, flores e orações. As velas se queimaram, as flores murcharam, e as orações o vento levou.

Noto que está acontecendo comigo quase a mesma coisa que aconteceu com minha mãe. Estou velho e começando a ganhar muitos presentes de meus filhos, que, ainda bem, são apenas dois, principalmente agora quando não preciso de quase nada. Salvo de saúde e juízo.

. Tenho não sei quantos frascos de perfume, presente dos filhos, em cima da minha cômoda. Mas não tenho a paixão de me perfumar. Apenas abro o fraco e sinto o cheiro. Depois veio a fase dos cinturões, cinturão de couro, de pano, fivelas estilizadas. Mas eu deixei de usar cinturão. As minhas calças sustentam-se muito bem na cintura, sem precisar de cinturão. Veio o tempo dos presentes de chapéus. Estes são úteis, protegem o calor da cabeça.Gosto de chapéu. Minha filha me trouxe três de Portugal.

Há poucos dias levei um susto. Ao acordar vi ao pé de minha cama não sei quantos pares de calçados: tênis, botas, havaianas, alpercatas de couro, sapatos, tive até vergonha de contar. Mas mesmo assim fiquei feliz quando vi minha gata brincando com os cadarços dos tênis

Eu tenho cá para mim que esta história de dar presente aos outros é muito antiga passa pelo Velho e o Novo Testamento. O rei Salomão recebeu presentes, o menino Jesus também, e para muitos continua presente. Mesmo assim os presentes por mais que simbolizem um gesto diplomático de aproximação entre os povos, entre as gentes, nem sempre evitam as guerras Principalmente quando é um presente de grego.

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