quarta-feira, 30 de maio de 2012

Conselho Estadual de Cultura

M. Paulo Nunes, presidente do CEC

Civilidade e Barbárie


Jairo Gomes Araújo *

No último fim de semana um amigo de comportamento atento, entregou-me cópia da coluna Echos da Chapada, escrito semanal do Professor Cineas Santos, no jornal O Dia. Publicado no dia 12/05/2012 com o título “O Sagrado Direito de Espernear”, o respeitado Professor trata sobre a composição do atual Conselho de Cultura do Estado, considerando “incivilizadas” algumas opiniões de artistas e produtores sobre o pleito.

O amigo interpretara que a escrita seria dirigida a mim, pois participei do processo de escolha dos membros do Conselho pela Assembleia Legislativa, não fui eleito, e de fato andei reclamando do que vivera naquele decurso. No entanto, após ler a matéria, afirmei ao afeiçoado que o teor expresso pelo Digníssimo não me envolvia, pois, em sua maior parte, trata de defender a ilustre figura do Professor Paulo Nunes, a quem jamais destratei. Ao contrário, sei muito bem de sua importância para a cultura do Piauí e, especialmente, para o Conselho de Cultura do Estado. Portanto, ao contrário, tenho profundo respeito e consideração pelo intelectual e cidadão M. Paulo Nunes.

Quanto à insatisfação que reporto, tem a ver com o atual processo de escolha dos membros do Conselho, instrumento importante para o processo democrático e que deve sim primar pelos interesses do patrimônio cultural dos piauienses. E se tivermos que mudar a Constituição por conta disso, já o faremos tarde. Desnecessário afirmar que não há nada pessoal com nenhum dos eleitos. E sobre isso haveremos de ter o amadurecimento cabível. Mas, percebam se o processo é legal, ou melhor, correto ou ético, já que a Lei permite artimanhas inescrupulosas e, por isso, tudo vai se tornando civilizadamente suportável.

No meu caso, e será muito importante alimentar a discussão com as diversas opiniões sobre o certame e a cultura do Piauí em geral, que concorri pelas candidaturas da Assembleia Legislativa, entreguei nos gabinetes de cada um dos Deputados uma Carta de Apresentação e Currículo. Algo que deveriam pedir no ato da inscrição. Não o pedem! Aliás, muita gente, inclusive ex-deputados, me afirmava que nada daquilo que entregara seria lido por nenhuma das Excelências. Fiz contato pessoal com alguns, que não tiveram tempo para melhor apresentação ou ouvir qualquer ladainha de meu histórico. Apenas para um falso apertar de mãos. Desconfiado de articulações bem mais interessadas que as minhas, fui até o atual Diretor Geral da TV Assembleia, Sr. José Gomes, e propus que realizasse debate em seu programa diário com os candidatos ao Conselho - O que poderia enriquecer e dar credibilidade ao processo. Este ficou de ver e só após ocorrência do pleito me perguntou como fora o resultado. Por três vezes mantive contato direto com o Secretário da Presidência da Assembleia, responsável pelas agendas das discussões no plenário, Sr. Marlon, para informações sobre o dia da arenga e, deste, só tive desinformações. Já próximo ao intento, 2 (dois) dias antes para ser exato, retornei ao sujeito e mais uma vez procurei a exatidão da agenda. O adstrito me informa que o Presidente da Assembleia, Sr. Themístocles Filho, viajara e nada ocorreria sem sua presença, mesmo porque este teria interesse pessoal sobre a pauta. Então tudo seria realizado, segundo ele, pela semana seguinte. Era uma quarta-feira. Na sexta-feira recebo telefonema da Deputada Flora Izabel, que defendia minha candidatura e estivera com problemas de saúde, já por volta das 12 horas, perguntando se sabia algo da votação para o Conselho, pois vira 2 (dois) outros candidatos presentes ao plenário. Respondi com a informação que me fora dada. Deputada então apura com a agenda da Casa e em seguida me liga dizendo que o processo de eleição já iria começar, contando inclusive com a presença do Excelentíssimo Presidente. Estava eu em compromisso distante daquele ambiente e ainda teria que voar até em casa para pôr paletó, pois a participação em sessões plenárias só é possível com tal indumentária. Pensei e, como tinha informação que os presentes têm laços familiares com a Casa, vi que a coisa não era séria. Então, Senhores Professores, os Deputados, e certamente há exceções, de forma irresponsável, votam sem saber em quem. Nem histórico ou currículo no ato de inscrever candidatos e muito menos quando da votação. E ainda tratam de desinformar candidatos em favorecimento de outros. É essa a civilidade que devemos conviver? Silenciar diante de artimanhas espúrias? Concordar com uns bonachões que por todo o tempo fazem acordos desinteressantes para a sociedade e não dão a mínima para a cultura do Estado? Assim, a barbárie nos fica mais nobre!!!

Outro motivo pelo qual reclamo é sobre a permanência infinda, não regulamentada, dos membros do Conselho de Cultura - assunto que, tecnicamente, trato em próxima oportunidade. E naqueles em que seus membros recebem gratificações, como o do Piauí, pior ainda. Não que seja contrário a alguma remuneração destes entes. Mas não podemos nos distrair de que a função de Conselheiro é um serviço que se presta à coletividade, sendo esta instância fundamental ao processo democrático. Por isso, muitas destas comissões Brasil afora têm caráter voluntário e ninguém recebe dividendo algum. Só participa quem realmente tem interesse e compromisso com a matéria. Nas reuniões do Conselho, portanto, Professores, olhem ao redor e se compenetrem em perceber dentre os presentes, quem estaria ali pela energia de um impulso solidário. Somente destes espíritos é que precisamos para compor o Conselho Estadual de Cultura.

* Jairo Gomes Araújo é Sociólogo e Produtor Cultural

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