segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Tempos de Leônidas Mello

Dilson Lages e Afonso Ligório.

Uma interpretação multifacetada de um dos governadores mais expressivos do Piauí. É isso o que os piauienses podem encontrar em Tempos de Leônidas Mello, do romancista, historiador e jornalista Afonso Ligório Pires de Carvalho, recentemente reeditado pela Editora da UFPI e disponível na Livraria Monsenhor Mello, no campus da UFPI. No livro, Afonso Ligório interpreta todas as nuances da trajetória política de Leônidas Mello - a vitoriosa carreira no magistério e na medicina, a ascensão política meteórica, as acusações de envolvimento nos incêndios de Teresina na década de 40, a aposentadoria de desembargadores, a queda e o chute que levou de Julinha Almeida ao deixar o Palácio de Karnak, em 1945. Um livro imperdível para quem quer conhecer um pouco mais a história de Leônidas Mello.

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Dílson Lages – O senhor escreveu Tempos de Leônidas Melo. O que pretendeu com esse ensaio? Afonso Ligório - Na realidade, eu pretendi resgatar a memória de Leônidas Melo, porque durante curto período, período inclusive logo posterior ao governo dele, houve uma preocupação um pouco precipitada sobre o governo dele. Apareciam apenas os defeitos; não aparecia aquilo que ele realmente tinha feito. Na verdade, Leônidas Melo era um homem integro, sério, um homem que tinha defeitos como os demais. Ele era um cidadão que nasceu em Barras e veio para Teresina fazer o ginásio. Aliás, passou 17 dias de viagem de Barras para Teresina a cavalo. Em Teresina, concluiu o curso secundário e foi estudar medicina. Tornou-se um grande medico. Depois, numa emergência política, foi sondado para ocupar uma secretaria de estado. Foi secretario e deu grande resultado. Foi diretor do Liceu e, também, com grande resultado. Como governador, a administração dele é coroada pela apresentação de algumas obras que se tornaram perenes e necessárias, por exemplo, o Hospital Getúlio Vargas. Quando Leônidas melo construiu o Hospital Getúlio Vargas, basta dizer que Teresina não tinha nenhum pronto socorro . Teresina, na realidade, em matéria de assistência médica, era uma cidade muito pobre. Ele construiu o majestoso hospital que foi equipado com tudo, tanto que chamou a atenção de todo o Brasil para essa iniciativa e Teresina muito deve a ele. O saudoso Clidenor Freitas disse que o Hospital Getúlio Vargas deveria se chamar hospital Leônidas Melo, porque na realidade quem pensou, quem fez aquela grande casa foi Leônidas Melo. Um dia, Leônidas, visitando obras do hospital em construção - e já quase concluído - encontrou uma quantidade enorme de material de construção que tinha sobrado. Ele, então, perguntou ao engenheiro: Com esse material pode-se construir um prédio? Vejam só, sobras de um hospital. Diante da resposta do engenheiro, Leônidas disse: “Pois bem. O senhor faça uma planta de um arquivo público e pode começar a obra”. O arquivo público é o atual arquivo, o prédio que foi construído. Ele construiu esse prédio com as sobras do material do Hospital Getúlio Vargas. Quer dizer, hoje, é difícil acontecer uma coisa dessas. Essa atitude de Leônidas Melo da uma dimensão da sua preocupação e, além do mais, da realidade que ele enfrentava num estado pobre como era o Piauí, em que não se podia fazer despesas desnecessárias. O prédio está ali junto a Rui Barbosa. É um prédio de dois andares de aspectos sóbrio e que teve uma grande serventia como biblioteca pública inicialmente e, depois, arquivo público. Por ai se vê que Leônidas Melo era um administrador e homem que tinha na mente a realidade do seu estado. Mas não foi somente isto que ele fez - sua administração é palmilhada de adiantadas providencias, por exemplo, a instalação de telefones automáticos. Teresina foi uma das primeiras cidades do Nordeste a ter telefone automático. Portanto, quando eu fiz o meu livro Tempos de Leônidas Melo, procurei homenagear Leônidas Melo. A primeira vez que eu o vi, na realidade, eu era ginasiano e entendi que devia pedir ao interventor, na época, uma ajuda para um jornal que eu queria fazer - o jornal se chamou O Autêntico. Eu tinha 14 anos. Fui aonde ele estava e pedi ao interventor uma ajuda. Ele me respondeu: “Mas você é um menino”. Insisti: “Eu sei, mas quero levar avante”. Ele não teve dúvidas, abriu a gaveta, puxou um cartão timbrado e mandou um bilhete para o diretor da Imprensa oficial, O sr Arthur Passos. Mandou um bilhete para ele, dizendo que atendesse ao portador no que fosse possível. Fiquei não apenas satisfeito, mas espantado com aquele gesto, porque quando se falava em Leônidas Melo aqui em Teresina, falava-se sempre em um ditador. Na realidade, eu não tinha visto esse ditador, tinha visto um homem compreensivo que me ajudou numa hora em que um estudante precisava de uma ajuda cultural e nós, então, fizemos um jornal na Imprensa Oficial.

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