sábado, 11 de fevereiro de 2012

Adriano Lobão: a poética da renovação

Adriano Lobão Aragão

publicado no jornal Meio-Norte
Teresina, 4 de novembro de 2011 

Adriano Lobão Aragão, jovem de ar tímido e ensimesmado, é um poeta talentoso e dele muito se espera. Certamente, dele muito se ouvirá falar na literatura. No momento, refiro-me ao livro recente, As Cinzas as Palavras, Edições Amálgama, Teresina, 2009, onde prossegue na sua linha de aprofundamento nos clássicos - antigos e modernos – e o faz com uma poética crítica e com sabor de atualidade. Conta com outra roupagem, aquilo de que a poesia da modernidade mais gosta: a intertextualidade e aintratextualidade, traduzindo seu mundo em poesia, com discursos e sensações perpassados por outros. 

Cabe aqui uma digressão: Após o advento da obra póstuma Cours de Linguistique Generale, de Ferdinad de Saussurre (1857-1913), resultante de cursos dados aos seus alunos A. Ridlinger, Charles Bally e Albert Sechehaye, a Lingüística torna-se o estudo científico da linguagem, quando é feita a separação entre língua e fala, sendo esta o ato individual e, portanto, sujeito a fatores externos, e aquela, um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de uma comunidade, com homogeneidade. Mas Linguística e Gramática não brigam, convivem no mesmo escritor, com sabedoria como faz Adriano Lobão.

O estabelecimento da Lingüística é o começo da modernidade poética, os poetas de então ganham novas formas de libertação, não mais sendo obrigados a simplesmente repetir metáforas e metonímias. O uso de tudo o que a literatura imprimiu até então enriqueceu o consciente e o inconsciente coletivos, para as variações mais estranhas, às vezes chegando ao obscurecimento do discurso. Derivadas da ciência linguística surgem aintertextualidade e a intratextualidade, ambas já usadas nos discursos clássicos, porém de forma disfarçada.

Na poética de Adriano Lobão não faltam intertextualidades e intratextualidades. A leitura do poema Uns versos (pg.15), tornam suficientemente claras minhas afirmações: “entre linha limpa descanso sutil não se desdobra / claro enigma em superfície inerte paz abandonada / o inexato revelar de obscuras possibilidades” (e segue em todo o poema). Isto já era comum, no Brasil, a partir da Geração de 45, de onde vem H. Dobal. Mas, nas suas últimas obras, Dobal parte para uma temática e um texto mais natural, aproximado da terra e do pensamento contemporâneo de satisfação imediata. O poema Há ainda este tempo, que começa o livro de Adriano Lobão, é muito característico do discurso da citada geração e da geração de Caetano e Torquato Neto, por exemplo.

Encontramos, assim, as causas da proximidade do signo do historicismo, com outro, o da modernidade, através de seu discurso interpolado e enfático nas metáforas com metonímias, nas sinestesias com cenestesias. Tudo isto já existia na poética barroca, como vemos no poema As odes os signos, de Adriano Lobão, o que não havia era a sociedade moderna, agora entrelaçando toda a literatura:

estas odes que aqui se erguem como estranhos obeliscos
emanam como desencanto louvando o próprio canto
palavra perdida lançada em busca de alheio signo

este verbo disperso em distante campo de poeira
areia estéril onde não canta tágide nem musa
estância onde não se encontra em seus cantos engenho e arte

nem alegre lembrança vestida de esquecidas ânsias
nem rústico altar profano onde sem música se dança

aquém dos verbos de outrora além dos versos de amanhã

decantados em prosa elegia e hino assim recordam
estas odes aqui erguidas em busca de signo alheio.

A pequena diversidade na matéria/conteúdo dos seus livros vai por conta de um estilo maturado na substância história principalmente. Poemas bem construídos, com cheiro e sabor dos clássicos, baseados em altas leituras. O autor é professor de literatura, adivinha-se: - basta que analisemos o mundo de antíteses e paráfrases, referências e alusões, sem falar na tônica inversões/invenções... Por tudo isto e por muito que não é possível ser dito aqui, Adriano Lobão Aragão é um dos melhores poetas da geração Amálgama, deste século XXI, um milenista como diria Herculano Moraes.

3 comentários:

Airton Sampaio disse...

Não aprendem mesmo a diferença entre grupo e geração...

Kenard Kruel disse...

airton, por júpiter! que implicância. e usando verbo no plural. ora, quem escreveu o texto foi francisco miguel de moura, que ainda desconfio ser parente de manoel de moura filho, pois bem! claro que francisco miguel de moura sabe a diferença entre grupo e geração. tanto que ele diz pertencer à geração clip, cirandinha apl etc.

Airton Sampaio disse...

Não é implicância, não. Mas faz parte do trabalho de quem quer exercer a atividade intelectual com rigor o uso o mais possível correto das categorias conceituais. Se não for assim, vamos continuar à margem da boa metodologia. E Amálgama NÃO é geração, mas um Grupo dentro de uma geração. Simples assim, por Júpiter!