segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Torquato Neto na lembrança de Claudete Dias

Claudete Dias e Torquato Neto, em cena de Adão e Eva.

Fazer cinema em Teresina, em 1972, era algo inusitado e pioneiro. Existia uma juventude muito pequena, que tinha a consciência de que nós estávamos vivendo uma ditadura. Aquela época era época da ditadura militar. Uma época barra pesada política e economicamente. E Torquato se inseria nessa época. E eu era uma jovem universitária, que conheceu Torquato através de um convite para ser protagonista de um filme super 8 chamado Adão e Eva do Paraíso ao Consumo. A fita se perdeu, mas ainda chegou a passar aqui, em Teresina, em sessões na Faculdade de Medicina. Torquato era muito atencioso, carinhoso, super sensível. Assim à flor da pele. Ele era diferente de todos. Torquato Neto era um cineasta, um roteirista. Ele dirigia e era ator também. Então, ele fez um filme aqui, no Piauí, sendo ator, esse filme Adão e Eva do Paraíso ao Consumo, nas coroas do Poti, aqui, em Teresina, em que eu fiz a Eva. O roteiro de Adão e Eva do Paraíso ao Consumo é de Edmar Oliveira. A Carlos Galvão coube a direção. Arnaldo Albuquerque fez a câmara. Noronha Filho ficou na produção. Na verdade, foi um trabalho de todos nós. É um filme que se perdeu, mas ficaram 19 fotos tiradas pelo Noronha Filho. Foi uma época em que se iniciou o cinema o cinema no Piauí. Foi o primeiro filme marginal do Piauí. Então, o cinema, o super 8, era uma das poucas formas de expressão que a juventude tinha condições de fazer, além da poesia, porque ninguém cala o poeta. Torquato fez, ainda em Teresina, o Terror da Vermelha, que é a história de um vampiro (Edmar Oliveira, ator principal) que atacava de dia, no centro de Teresina, as mocinhas Eu fui uma das mocinhas, a Herondina, que tinha voltado de um intercâmbio cultural dos Estados Unidos, foi outra, a Conceição também, além de outras donzelas. Torquato dirigiu e roteirizou esse filme. Um pretexto, na verdade, para ele filmar Teresina, sua cidade amada. Para filmar sua família. As primas, estão quase todas lá. O primo Paulo José Cunha. Ele fez questão de aparecer numa cena, na Praça do Liceu Piauiense, sendo vítima do tal vampiro, que o enforca com uma corda. Tudo era mudo. A trilha de Terror da Vermelha, por exemplo, foi feita depois. O filme foi montado depois da morte de Torquato, que deixou um roteiro e uma direção a serem seguidos. E, no Rio de Janeiro, ele fez Nosferato no Brasil, de Ivan Cardoso. Ela fez o papel de vampiro. Então, Torquato não era só o poeta, era cineasta, ator, diretor, jornalista, compositor. Acho que ele seria hoje um pintor, porque ele gostava de pintar, de desenhar, de fazer esculturas. Enfim, tudo em arte, Torquato tinha talento. Torquato foi um dos primeiros piauienses a furar a mídia nacional. Era uma pessoa conhecida nacionalmente. Ele é, hoje, uma pessoa mitificada, endeusada nacionalmente. A juventude,de 20, 30 anos de idade, é louca por Torquato. Coisa impressionante para um cara de 68 anos de idade.

(Partes de entrevistas concedidas por Claudete Dias a Laércio Andrade, da Tv Meio Norte, e a Isana Barbosa e Rammyro Leal, da High Tec Studio).

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