quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Torquato Neto e Hélio Oiticica na Whitechapell Gallery, Londres, 1969

O diálogo abaixo escrito por Rogério Duarte e Torquato Neto em 1968 está publicado no já antológico Os últimos dias de Pauperia (1982) e na sua reedição chamada Torquatalia (2004). Publicamos também recentemente no livro Série Encontros – Tropicália que fiz com Sérgio Cohn pela Azougue Editorial. De certa forma, ele tem relação com o papo do último posto sobre engajamento, regionalismo e as formas como a cultura brasileira tem trabalhado com isso. Continua no próximo:

NETO, Torquato e DUARTE, Rogério: “Diálogo”.Rogério Duarte: Torquato, você acha que está cumprindo seu dever de brasileiro?

Torquato: Yes.

Rogério: Porque você respondeu em inglês?

Torquato: Devido a minha formação (Joaquim Nabuco) de comunista.

Rogério: Presentemente está atuando em alguma emissora?

Torquato: Não.

Rogério: Em inglês ou português?

Torquato: Em português. Nós temos Bananas. Fale.

Rogério: Assim não, isso é plágio de João de Barro e Alberto Ribeiro. Que tem a declarar?

Torquato: Vinícius jamais escreveria isso. Vinícius é a minha miss Banana Real. Geraldo Vandré é um gênio.

Rogério: Você diz um gênio sexual ou matemático?

Torquato: Nunca dormi com ele.

Rogério: Por que, você sofre de insônia?

Torquato: Eu era viciado em psicotrópicos. Hoje em dia eu dou mais valor
aos alcalóides ...

Rogério: Eu por minha parte dou mais valor aos aqualoucos.

Torquato: O Golias é ótimo.

Rogério: Ele já foi aqualouco?

Torquato: Yes.

Rogério: Você não acha que nós devemos tratar melhor os negros?

Torquato: Yes.

Rogério: Por exemplo lá em casa estamos há 2 meses sem empregada. Nesse sentido Malcolm X ou Bertrand Russel foram muito compreensivos. Veja o caso de Sérgio Pôrto com aquela estória do crioulo doido, puro racismo, e racismo paulista, o que é mais grave sendo ele cocarioca, isto é, carioca, não acha nego?

Torquato: Yes. Acho sim. Agora: o Bertrand Russel é mais branco do que Malcolm X. O que estarei querendo dizer com isso?

Rogério: Talvez que a noite deste século seja escura e de uma escuridão tão impotente que mesmo no seu âmago mais profundo não são pardos todos os gatos.

Torquato: Non sense. Auriverde pendão das minhas pernas que a brisa do funil beija e balança. Onde está funil leia-se mesmo Brasil. Nelson Rodrigues inventou a subliteratura e eu endosso..

Rogério: Mas você não acha que depois de C. Veloso já devemos começar a cuidar mais seriamente da superliteratura?

Torquato: Yes. Freud explica, não é mesmo?

Rogério: Seria se fosse. Mas tanto Freud como Sartre como Lévi-Strauss não passam de romancistas da Burguesia. E Lukacs?

Torquato: Foi o caso mais grave de Geraldo Vandré que já conheci. E com a desvantagem de ser tão polido como Leandro Konder. Só que de Romance ele não manjava bulufas. Mas, não exageremos porque Lukacs é um moço de muito futuro.

Rogério: Além do mais Torquato todas as nossas tragédias ou melodramas individuais fazem parte de um projeto coletivo nosso. Nós fumamos maconha para ter um sucedâneo da fome dos operários e damos a bunda porque não entendemos bem a razão pela qual temos tantas bananas e os camponeses continuam tão desenxavidos.

S.P. 1968

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