segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Cícero Manoel (do Mafuá para o mundo)

Cícero Manoel no balcão do armarinho de dona Sefinha.


Criado em 1973, como armarinho, por Josefa da Cunha Silva, 30 anos depois, em 2003, a acanhada lojinha de apenas 9 metros quadrados de área - espremida entre as outras lojas do Mercado do Mafuá, Zona Norte, converteu-se no Espaço Cultural São Francisco, agregando, no mesmo local, uma biblioteca de arte, um acervo de objetos antigos e um canto de parede para exposições, além de manter o antigo armarinho de dona Sefinha, como era conhecida a mãe do idealizador do Espaço.

“Quando eu tive a ideia, as pessoas me achavam louco - onde já se viu criar um espaço cultural dentro de um mercado? – diziam. Hoje, eu percebo que essa foi a melhor coisa que eu fiz na vida”, confessa Cícero Manuel, o filho de dona Sefinha. Logo, apreciadores de arte da cidade e de todo o Brasil disputavam o reduzidíssimo espaço com os fregueses convencionais do armarinho, para contemplar raridades, como a primeira edição do livro O Homem e Sua Hora, de Mário Faustino, impresso em 1955, em Lisboa.

E foi assim, meio aleatoriamente, que nasceu - junto as linhas, botões, fechocler, bordado inglês -, um espaço que enche os olhos de quem o visita: uma parafernália de quadros, rádios, telefones, máquinas fotográficas, ferro de gomar, de todas as épocas e formatos. “Eu praticamente nasci aqui, e queria montar um lugar onde pudesse juntar um local para exposição e manter o armarinho para preservar a memória de minha mãe”, explica Cícero.

Em 1989, Cícero Manuel entrou para o curso de Letras da Universidade Federal do Piauí, onde teve contato com as vanguardas europeias, e comecou a gostar de arte. Daí, para se tornar artísta plástico, foi só um pulo. “Tenho muitos amigos também artistas plásticos, o que facilita as famosas permutas – em que os artistas se presenteiam com suas obras -, e eu fui colocando esse material (quadros e objetos) aqui no espaço, onde eu podia botar, mas nada arrumado”.

E foi para por ordem na casa que apareceu a arquiteta Ana Márcia Moura, amiga de Cícero. Ana Márcia criou um projeto, que foi prontamente colocado em prática. “A ideia era organizar e otimizar o espaço, conservando as coisas que meu pai fez (os balcões e a estante) para o armarinho, além de ganhar mais espaço, o que conseguímos com a retirada de um dos balcões permitindo liberar a parede para as exposições, que funcionam durante todo o ano”.




Exposição de máquinas fotográficas antigas - No momento, a “parede” expõe algumas máquinas fotográficas antigas. “Esse material ficava “guardado” na casa de um amigo meu, quer dizer, é uma coleção particular, que ficava dentro da casa dele, só as pessoas da família e alguns amigos tinham acesso, mais ninguém, eu o convenci a trazê-lo para cá, para que mais pessoas pudessem ver”.

De acordo com Cícero Manuel, as máquinas fotográficas vão dá lugar a uma exposição de gravuras em metal, de um artista do Rio de Janeiro. “Sempre temos uma programação para esta parede de exposição”, afirma.

Nem todos os objetos estão a venda – ainda -, avisa Cícero, como é o caso da edição rara de Mário Faustino.

“Antes as pessoas vinham e queriam comprar, eu não vendia, mas o local precisa se manter, não temos ajuda de ninguém e eu pago o aluguel com a venda de meus quadros, então comecei a vender algumas coisas”, confessa.

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