Menezes Y Morais, jornalista e escritor.
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.Desde adolescente, Menezes y Morais senta-se em frente à mesa de trabalho e só sai dali quando consegue se libertar dos pensamentos que antes ocupavam a sua mente. Quando firma os pés no chão e levanta-se da cadeira, é inevitável, ele reclama de dor, as costas estão moídas. Sua mãe, Isabel Menezes de Morais, costumava gritar para ele: “Vem comer, meu filho!”. Hoje, não é mais assim. Mas a produção ainda é obstinada, esfomeada: de 20 livros inéditos, já publicou 11. O mais recente é o romance A íris do olho da noite (Thesaurus), que ele lançou dia 18 passado, às 19h, no restaurante Carpe Diem, em Brasília. Mais chegado à poesia, Morais diz que a ficção o consome durante várias estações. “Passo de dois a quatro anos em processo de gestação. Quando não tem mais como correr daquilo, faço um espelho dos personagens, me sento diante do computador e só Deus sabe”, explica.
Dos nove volumes restantes, ele ainda guarda um romance, uma novela, um livro de contos, um de ensaios de história e uma coletânea de entrevistas (com Cora Coralina, Jorge Amado e outros autores). O resto é poesia. “Me considero essencialmente poeta. Mas isso não quer dizer que, aqui, eu seja um poeta de férias escrevendo um livro. São métodos diferentes”, delineia. No caso de A íris, o processo começou ainda no século passado e só terminou em 2006. De lá para cá, veio “apertando parafusos, melhorando a linguagem”.
O cuidado do escritor, natural de Altos, no Piauí, foi em criar uma escrita com a cara de Brasília. A história concentra conflitos e discussões em torno de um casal liberal: um economista e uma professora, formados na UnB, e pais de dois filhos pré-adolescentes. A malha narrativa, adianta Morais, não cede ao melodrama. “Não cai no sentimentalismo ou na tragédia. É um romance de ideias, psicológico, e com um pouco de história real”, classifica.
De carne e osso - Em meio aos conflitos, discussões e encontros, aparecem personagens reais da cidade: o poeta Cassiano Nunes e o compositor Renato Matos, por exemplo. Morais segue a trilha deixada por Dante Alighieri na Divina comédia. “Pessoas que Dante não gostava foram colocadas no purgatório ou no inferno”, diverte-se. “Essa técnica foi retomada por Balzac e Jorge Amado. Na minha visão, é uma sacudida no leitor. E faz com que ele pense: ‘É ficção ou realidade?’”, continua.
Formado em jornalismo, Morais aprendeu a amar a literatura por incentivo da mãe, que o alfabetizou com livros de cordel. Na rede instalada na varanda de casa, o menino gostava de se espreguiçar para trás e ficar de cabeça para baixo, enquanto ouvia as frases saindo da boca da mãe. Pai de seis filhos — um já falecido — e avô de três netos, ele vê a literatura local como madura e com identidade própria. “Temos muita gente produzindo coisas boas no teatro, na literatura, no cinema e na música. Brasília já tem uma dicção própria em todas essas áreas”, acredita. E trata a escrita como uma atividade ao mesmo tempo egoísta e generosa. “É um ato solitário e radicalmente solidário”, diz.
Leia trecho do livro A íris do olho da noite, de Menezes y Morais: De sútibo, nos umbrais do tempo
Na primeira vez que o Homem acordou de súbito, a sensação de mal-estar foi ainda mais estranha. "Instalou-se a crise?", indagou, nos subterrâneos d'alma. Tudo era hiperesquisito: a Mulher, os filhos, a cumplicidade do quarto (não o apartamento como um todo), a vida lá fora e.. a Vizinha do lado!, cujo assédio lhe desafia a provação monogâmica e lhe infla o ego de ser humano desejado; mas ele não permitia que o assédio passasse de olhares, sorrisos, insinuações. Certa vez ela tocou a campainha do apartamento, vestida apenas "de shortinho apertadinho e curto", conforme o relato da Mulher, que abriu a porta e a atendeu. Desconcertada, a bela Vizinha perguntou pelo Homem, disse que apertara a campainha porque precisava de um roldo emprestado, para limpar o apartamento, o dela desapareceu na mudança. A Mulher contou isso para o Homem com ar de cizânia, porém aceitou os argumentos de defesa e acalmou-se. O pensamento do Homem focou-se nas contas atrasadas de água e condomínio, na alta do preço da sobrevivência diária, no patrão e no sistema que, sem mais nem menos, lhe tiram do sério. O que fazer? Especialmente o sistema, visto que o patrão pode ser apenas mais uma de suas vítimas, deixava o Homem num estado de nervos no qual se desconhecia.
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Posted By Marcos Freitas
Um comentário:
Menezes sempre foi assim. Um trabalhador quase braçal da palavra. O jornalismo ajudando na construção do literário. É o que deve fazer parte desta nova escritura dele.
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