terça-feira, 5 de julho de 2011

Amigo verdadeiro

Vitorino Correia.

(*) Ferrer Freitas

Coisa que me gratifica sobremodo é ouvir alguém aqui em Teresina (o amigo picoense José Omar é um) dizer que leu crônica minha e gostou muito. Isso, evidentemente, porque a maioria dos textos aborda quase sempre um só tema , Oeiras, o que faço sem a preocupação de seguir o conselho de Leon Tolstoi, autor de Guerra e Paz, entre outras obras admiráveis, que disse algo mais ou menos assim, “se queres ser universal, fala de tua aldeia”. Pois lá vou eu, de novo, tentar narrar mais um fato da memória política da velha terra. Volto a me ocupar do coronel Vitorino Correia, objeto de crônica recente, quando tratei de sua trajetória envolvendo Oeiras.

Pois bem. Conversando recentemente com um dos oeirenses mais dignos que conheço, o meu amigo (posso dizer!) Adelino de Sá Rocha, mostrou-me ele carta endereçada ao seu pai, Augusto Rocha Neto, chefe político de prestígio da cidade na primeira metade do século XX , por Vitorino, à época deputado federal com a capital do país ainda no Rio de Janeiro. Sabedor que seu fortíssimo e fiel aliado político estava padecendo de pertinaz moléstia, dirige-lhe a correspondência, datada de 31 de janeiro de 1952, para colocar-se à sua inteira disposição e da qual retiro alguns trechos que me permito transcrever aqui. E o faço com o fito único de enaltecer virtudes como amizade, generosidade, desprendimento e outras que tais, desprezadas por políticos de todos os matizes, com raríssimas exceções.

Inteirado em detalhes da gravidade do mal de seu Rochinha, como era amplamente conhecido o político oeirense, Vitorino diz-lhe: “Eu aqui estou para auxiliá-lo em tudo, inclusive materialmente se julgar necessário. Faço-o diretamente, pois desta maneira obrigo o prezado amigo a pensar no caso. Espero, pois, uma resposta.” Antes , fala de viagem que programara para Teresina e que tivera de adiar em vista de compromissos na Câmara. E acrescenta: “Pretendia, quando aí estivesse, convencê-lo da necessidade de sua vinda ao Rio para submeter-se a exame por especialista e ao mesmo tempo a um tratamento rigoroso. Estou convencido de que, após isto, uma estação de águas em Minas far-lhe-ia muito bem.” Na carta, escrita de próprio punho, Vitorino encerra dizendo que aguarda resposta e reafirma a amizade por Rocha Neto que faleceu, não muito tempo depois, ainda relativamente moço, pois contava 58 anos.

Como se sabe, o coronel teve que filiar-se ao PTB e foi candidato pela coligação formada com a UDN a suplente de senador, isso na campanha de 1958, retornando a Oeiras, agora do outro lado, o que não impediu de Adelino, candidato a prefeito pelo PSD, de visitar o amigo verdadeiro de seu pai na casa do adversário onde estava hospedado. Em política, adversário não pode ser sinônimo de inimigo. E o ódio não deve se sobrepor à terra, como ocorre em Oeiras.

(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras.

Nenhum comentário: