domingo, 24 de abril de 2011

Uma lembrança política

General José Vitorino Correia.


Não costumo falar em política nesses meus textos de reminiscências. Tratando-se de Oeiras então , diria até que pode se constituir uma imprudência, senão uma estultice. Mas, como a abordagem que sugere o título se atém ao que vi e ouvi ali pelos meus 16 anos, ao término do curso ginasial, fico à vontade, pois a maioria das pessoas citadas de há muito estão no andar de cima.

Pois bem, entre os grandes políticos votados em Oeiras para a câmara federal , não se pode esquecer de um que governou o Piauí de 20 de março a 3 de setembro de 1946, o mineiro José Vitorino Correia. Com a redemocratização, eleito presidente pela legenda do PSD o general Eurico Gaspar Dutra, candidato de Getúlio, o, à época, major do Exército Vitorino, exercia a chefia de Polícia do Piauí. Foi então nomeado interventor pelo presidente, por estreitas ligações dos tempos de caserna e até familiares (a esposa de Vitorino fora criada por dona Santinha, esposa de Dutra). Findo seu curto governo, já coronel, tomou gosto pela política e inicia gestões de apoio para uma candidatura a deputado federal, logrando êxito na eleição ocorrida em 1951, com o decisivo apoio do PSD de Oeiras, que tinha à frente um dos maiores políticos oeirenses de todos os tempos, Augusto Rocha Neto, que, na ocasião, ainda se elegeu deputado estadual e fez prefeito da cidade o médico Laurentino Pereira Neto, natural de São João do Piauí, que trouxera para exercer a medicina em Oeiras nos anos trinta.

Em 1955 Vitorino reelegeu-se, Laurentino foi para a Assembleia Legislativa ocupar a vaga deixada com o falecimento, sentido por todos, do líder Rocha Neto, e para prefeito foi eleito o empresário Mário de Alencar Freitas. Nesse pleito, como ocorria em todos naquele tempo, os apaixonados poetas oeirenses, de ambos os lados políticos, aproveitavam músicas em voga e punham letras dizendo loas dos candidatos. Foi o caso de uma amplamente cantada, de refrão assim: “Mário Freitas é o prefeito ideal./Deputado, Laurentino./E na câmara federal o coronel Vitorino,/Só ele pode guiar nosso destino!” Não foi o que ocorreu! Vitorino é que teve que procurar outro destino. Com a candidatura irrefreável a deputado federal de Laurentino, de liderança inconteste em Oeiras desde os tempos do exercício da medicina, foi-lhe retirado o apoio político no pleito seguinte e o coronel, cantado em prosa e verso, mudou de lado. Filiou-se ao PTB e aceitou a candidatura de suplente de senador pela coligação dos trabalhistas com a velha UDN no pleito de 1958, que elegeu governador o parnaibano Chagas Rodrigues e vice o oeirense Tibério Nunes.

Nunca esqueço da volta do coronel a Oeiras, mesmo ainda sendo um adolescente. Não sei, mas a uma certa distância do local da recepção política proporcionada por antigos adversários, tive a sensação que lhe faltava terra nos pés, como se diz comumente em situações difíceis, e vi seu olhar perdido como a procurar velhos companheiros de campanhas memoráveis, de um tempo em que disseram que ele podia guiar o destino de todos. C’est La vie!

(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras.

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