segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Idéias no tempo

Cunha e Silva Filho, na APL.
Foto de Kenard Kruel.
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Prezado Kenard Kruel: Como não tenho seu e-mail, venho por este lhe agradecer a honrosa presença do amigo por ocasião do lançamento do meu livro As ideias no tempo. Ao mesmo tempo, quero lhe agradecer pela gentileza de autografar-me o seu mais recente livro, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves - Cartas para A. Tito Filho, que já estou folheando com muito prazer sobretudo pelo fato de que pouco conheço da figura ilustre desse piauiense de Amarante, que é Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, a qual só conhecia através de pessoas que com ele conviveram. A obra organizada por você ainda me prende a atenção devido à figura do destinatário das cartas, que foi A. Tito Filho, um talentoso intelectual, grande jornalista e singular cronista de estilo aliciante. A. Tito Filho foi também meu professor de literaturas portuguesa e brasileira no Liceu Piauiense e poderia afirmar, com segurança, foi o melhor mestre que tive naquelas disciplinas em Teresina. Era a paixão e a admiração dos seus alunos. Um talento verbal. Você, por sua vez, está há muito de parabéns dada a sua operosa atividade intelectual com publicações que se vão somando a obras relevantes para se conhecer o Piauí político e literário. A par disso, me passa a impressão de que é pessoa distinta, educada, simples, participativa e prestigiadora do que ocorre no Piauí no plano da cultura. Envio-lhe, pois, um abraço e só lhe desejo novas produções na suas pesquisas sobre homens e livros do Piauí. Cordialmente, seu amigo e admirador, Cunha e Silva Filho.
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Caríssimo Cunha e Silva Filho. Em primeiro lugar, quero dizer da grande admiração que eu tinha e tenho pelo seu pai, Cunha e Silva. Apresentado a ele pela Sônia Setubal, minha amiga na Fundação Cultural do Piauí, onde trabalhamos juntos, com reforço feito pelo Evandro Cunha e Silva, servidor das antigas da Delegacia Regional do Trabalho, no Piauí, eu o visitava constantemente na Jacob Almendra, onde era muito bem recebido em seu habitat, ou o via nas sessões de sábado, na Academia Piauiense de Letras, na presidência do professor A. Tito Filho, que me tinha como uma espécie de assessor de comunicação 0 800, assim como José Fortes Filho, atualmente presidente da Academia de Letras de Sete Cidades. Li, muito, os originais de República dos Mendigos (1984), novela de fundo social e político, e Copa & Cozinha (1988), sátira política e ensaios, publicado, com capa do genial Paulo Moura, pelo Projeto Petrônio Portella, da Secretaria de Cultura e Desportos / Fundação Cultural do Piauí, que eu ajudei a criar no primeiro governo Hugo Napoleão, quando Jesualdo Cavalcanti era secretário e eu seu assessor de comunicação. Depois, fui diretor do Projeto Petrônio Portella, no segundo governo Alberto Silva, na gestão de Israel Correia e Noronha Filho como secretários da Cultura. E, ainda, Gatos de Palácio, relato satírico regional mais ou menos na linha de Copa & Cozinha. Não era de mostrar sua produção poética, mas era um sonetista de primeira linha. Ouvia-o, com paciência, discorrer sobre seus tempos de Amarante, Rio de Janeiro, e de suas lutas em Teresina, professor de História do Instituto de Educação Antonino Freire, e diretor do Liceu Piauiense. De suas passagens pelos jornais A Gazeta, O Tempo, A Luta, O Pirralho, O Dia e Jornal do Piauí. Quando editor de cultura e editor chefe do Jornal da Manhã, a maior escola de comunicação que o Piauí já teve, andei publicando artigos deles, que ia buscar, pessoalmente, em sua residência, aproveitando para tomar, sempre bem gelado, suco de tamarindo, que ele me servia, com gosto (de gostar e de intensidade). Muito aprendi com ele, acompanhando seus passinhos curtos, pelas ruas e avenidas de Teresina. Aqui morou Antonino Freire. Aqui foi o Colégio Demóstenes Avelino. Ali ficava o casarão de Miguel Rosa. Nessa esquina funcionou o Quartel de Polícia. Nesta residência morou Heitor Castelo Branco. Aqui era feito o jornal O Piauí. Este palacete era residência do Dr. Leônidas Mello. Veja ali onde morava o Dr. Freire Andrade, se hospedou Getúlio Vargas. Esta região da Igreja Sâo Benedito se chamava Alto da Jurubeba. A da Praça do Fripisa (Demóstenes Avelino) chamava-se Alto da Moderação. E assim, ia me dando aulas e mais aulas gregas pelas ruas e avenidas de Teresina. Hoje, se estou fazendo livros sobre a história do Piauí, talvez seja porque eu fiquei impressionado com as histórias, ricas em detalhes, que ele me contava sobre os personagens daquelas belas casas, retratos nas paredes e ou nos livros, e como dói, meu caro Drummond.  Uma imagem que eu tinha de Cunha e Silva era de uma chinesa andando ou melhor saltitando ou deslizando (eu nunca sei) com aqueles passinhos que pareciam que não iam levar a lugar algum. Mas, levavam, bastava ter paciência. E eu gostava quando ele botava sua mão em meu braço, rumo à Casa de Lucídio Freitas. Eu me sentia importante em estar levando um dos intelectuais mais dignos que eu já conheci em minha vida. Nas defesa de suas ideias, Cunha e Silva era uma rocha. E parecia ser um ser tão frágil. Bem, meu caro Cunha e Silva Filho, você começou me fazendo lembrar dessa notável figura que foi seu pai, meu dileto amigo professor Cunha e Silva. Depois, dizer que estou lendo, agora com mais vagar, seu livro Ideias no tempo, um encantamento de obra. Fui diretor, por pouco tempo, da biblioteca pública do Estado. Quando meus filhos (Rafael, Gabriel, Samuel, Arthur e Otto) iam lá, era uma grande festa. Eu me sentia o pai mais feliz do mundo. Seus passeios no Arquivo Público, quando o seu pai, Cunha e Silva, era diretor me fizeram lembrar isso, com enorme alegria. Quem sabe um dia mereço crônica de um deles lembrando suas lembranças assim de magia e sedução. Você revendo Amarante e Teresina ao sabor da boa memória, os apontamentos que você faz de Cramoza, Clóvis Moura, Francisco Miguel de Moura, Elmar Carvalho, João Pinheiro, José Ribamar Garcia, M. Paulo Nunes, A. Tito Filho, O. G. Rêgo de Cravalho, Alberto da Costa e Silva, entre outros autores caros da nossa literatura, que são aulas não só de ensinamentos literários mas, sobretudo, de olhar com outro olhar alguns desses autores, o belo estudo Graça Aranha e a questão do academicismo, que nada fica a dever a Rubião: compaixão ou ódio, nos dando, ainda, Drummond: o cronista entre a tradição e a modernidade, me fazem ficar horas com seu livro debaixo das mangueiras aqui de Altos de Menezes Y Morais. Eu é que sou grato por ter conhecido você e por pode ler suas belas obras, entre elas, por exemplo, Da Costa e Silva: uma leitura da saudade, que me fez amar ainda mais esse nosso grande poeta de Amarante de Carvalho Neto. Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, numa das cartas a A. Tito Filho, diz que Da Costa e Silva tinha a inteligência nas mãos, por ser, também, desenhista, pintor e escultor. Balonista. Fazedor de máscaras de carnaval. Fazedor e empinador de papagaios. Além de esteta do verso. Fico devendo comentário melhor, mais abalizado sobre seu livro Ideias no tempo. Fique de tocaia. E, não se deixe de mim. Com fé, esperança e amor, seu amigo e admirador Kenard Kruel.

Um comentário:

Cunha e Silva Filho disse...

Estimado Kenard Kreuel:
Vejo, com incontda alegria e sinceridade de opkiniã, o que você me diz de meu pai. Não o sabia de seu relacioname nto com papai porque, cçomo sabe, saí de Teresina rapazinho.
Muito lindo o que me diz desse livro que acabei de lançar em Teresina. Na verdade, é um livro que tem história dele próprio, uma vez que me foi difícil chegar ao lançamento. Meu pai queria sempre que eu reunisse alguns artigos e os publicasse em forma de livro. De certa forma, o desejo de meu pai se concretizou plenamente.
Você tem um estilo literário que, em poucas palavras, afirma muito sobre os fundamentos de uma obra. Isso só os bons jornalistas conseguem fazer e, como você, o fazem com brilho e precisão admiráveis.
Nos pontos que levantou de minha obra estão realmente os aspectos mais salientes que, na minha seleção de textos, desejava pôr à atenção do leitor.
Envio-lhe forte e fraternal abrçao.

Cordialmente,
Cunha e Silva Filho