sábado, 27 de novembro de 2010

Rádio Clube de Teresina, breve histórico

No corte da fita simbólica, Genu Moraes e Chagas Rodrigues.
Foto do acervo de Genu Moraes.

Chagas Rodrigues, jovem político oriundo do Norte do Piauí, mantendo pouco contato com as elites políticas do Estado, e fazendo um governo inovador e de agrado aos trabalhadores, logo se viu isolado no Palácio de Karnak. Mas, inteligente e ousado, para contrapor este isolamento e também para fazer frente à Rádio Difusora, comandada por pessoas ligadas ao PSD, idealizou, juntamente com o irmão José Alexandre Caldas Rodrigues, o funcionamento da Rádio Clube de Teresina LTDA.
A Rádio Clube de Teresina nasceu fruto do decreto-lei nº 43.575, de 26 de abril de 1958, e de nº 46.003, de 15 de maio de 1959, publicado no Diário Oficial da União, de 3 de setembro de 1959, que permitia instalar, em nossa Capital, estações de ondas tropicais e médias, nas freqüências de 3.385 KC e 1.430 KC, respectivamente.
As ações da Rádio Clube foram divididas entre José de Anchieta Santos Correia (Hum Milhão de Cruzeiros), Maria Genovefa de Aguiar Moraes Correia (Genu Moraes - Hum Milhão e Quinhentos Mil Cruzeiros), Benedito Raimundo Alves Pereira (representante de Chagas e José Alexandre Caldas Rodrigues - Hum Milhão de Cruzeiros) e Rádio Difusora do Maranhão, representada pelo seu diretor-gerente Raimundo Emerson Machado Bacelar, do Grupo Bacelar do Maranhão (Hum Milhão e Quinhentos Mil Cruzeiros).
A gerência geral ficou a cargo do cotista José de Anchieta Santos Correia. A sociedade, além da sede em Teresina, localizada na Rua Álvaro Mendes, nº 1383, de propriedade da cotista Genu Moraes, mantinha escritório comercial em São Luís, sob a administração e gerência desta.
À cotista Rádio Difusora do Maranhão LTDA cabia a supervisão da parte artística e técnica da empresa, com consulta à gerência, quando da admissão de pessoal para os referidos departamentos, de acordo com o que está estabelecido no Contrato Social, assinado no dia 20 de novembro de 1959.
A Rádio Clube de Teresina LTDA foi inaugurada a 21 de janeiro de 1960, com as presenças do governador Chagas Rodrigues, do prefeito de Teresina Petrônio Portella Nunes, do deputado federal Clidenor de Freitas Santos, do comandante da Guarnição Federal de Teresina coronel Façanha, cônego Benedito Cantuária de Almeida e Souza, do advogado Reginaldo Furtado, secretário particular do governador Chagas Rodrigues, de Antônio de Moraes Correia, José de Anchieta Correria, Genu Moraes Correia e Raimundo Emerson Machado Bacelar, do grupo Bacelar, dentre outros convidados.
O governador Chagas Rodrigues, por meio de programa semanal na Rádio Clube, passou a manter diálogo com a população. Em longos discursos, dava conta de suas ações administrativas e respondia as cartas que lhe eram enviadas pelos ouvintes, onde ele acatava as sugestões que o povo dava, prendendo a atenção de todos, que ficavam contentes em ser atendidos pelo próprio governador. Ninguém perdia o horário do governador na Rádio Clube. Era uma nova maneira de governar, que embasbacava os adversários e até correligionários, que nunca tinham visto algo parecido.

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Durante o primeiro Governo Getúlio Vargas, deu-se a implantação do primeiro veículo radiofônico no Maranhão, a Rádio Difusora (mais tarde Rádio Timbira, quando passou a compor a maior cadeia de comunicação da época no Brasil - os Diários Associados, do Assis Chateaubriand). Surgiu a partir de solicitações do interventor Paulo Martins de Sousa Ramos. Com o apoio das autoridades federais, foi concedido para a rádio oficial o prefixo PRJ – 9, que ocupou a onda média (amplitude modulada), sendo sintonizada através de 1940 quilohertz. Para a sua montagem, a Philips, empresa especializada no ramo, enviou a São Luís o técnico mato-grossense Édson Braune de Araújo, cuja importância foi vital para a sobrevivência do rádio maranhense. Inaugurada no dia 14 de agosto de 1941, a PRJ-9 entrou no ar às 21 horas com o pronunciamento do interventor Paulo Ramos, que foi ouvido em mais de 60 municípios do Estado.

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Raimundo Bacelar comandou a Rádio Difusora até o início dos anos 60, na época o órgão de comunicação de maior força no Maranhão, tendo se afastado por ter sido eleito deputado estadual, sendo substituído na direção da emissora pelo advogado Magno Bacelar, que foi prefeito de Coelho Neto, pelo Partido Verde (PV).
Em 1963, com a presença de Abelardo Jurema, Ministro da Justiça do presidente João Goulart, Magno Bacelar instalou solenemente a televisão no Maranhão.
Em 66, Raimundo Bacelar se deslocou para o eixo Rio e São Paulo e Magno se candidatou a deputado estadual. Elegeu-se, disputou a presidência da Assembléia, ganhou e foi pressionado a renunciar antes de assumir pelos representantes da Ditadura Militar.

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Raimundo Bacelar conseguiu a Rádio Difusora do Maranhão por intermédio do deputado federal Cid Carvalho, muito bem relacionado no governo central pela amizade que tinha com o Negrão de Lima (deputado constituinte - 1934; deputado federal por Minas Gerais - 1935 a 1937; embaixador Brasileiro no Paraguai -1942 a 1946; ministro da Justiça - 1951 a 1953; prefeito do Distrito Federal -1956 a 1958; ministro das Relações Exteriores - 1958 a 1959; embaixador do Brasil em Portugal - 1959 a 1963; governador da Guanabara - 1965 a 1971), de quem fora assessor.

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Em 1963, Jorge Chaib, Nogueira Filho, coronel Pedrinho Borges e o professor Valter Alencar adquiriram cotas razoáveis de ações da Rádio Clube de Teresina que, pouco tempo depois, teve sua denominação mudada para TV Rádio Clube de Teresina S. A.

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O coronel Pedrinho Borges era filho do ministro Pedro Borges da Silva, que foi membro do Tribunal de Segurança Nacional, órgão encarregado de julgar todo mundo que era considerado comunista, e dona Mercedes, filha do desembargador Antônio Costa, que concorreu e perdeu as eleições para o governo do Estado, em disputa com o Dr. Eurípides de Aguiar, em 1916. Pedro Borges da Silva foi Secretário de Governo de Eurípides de Aguiar. Pedro Borges da Silva era, também, cuncunhado de Pedro Freitas, já que a esposa deste, dona Nazaré, era irmã de dona Mercedes. O avô do coronel Pedrinho Borges, o coronel Doca Borges, era parente de Eurípides de Aguiar, posto que casado com Isabel Clementino de Carvalho, mais conhecida como dona Bela. Foi prefeito de Floriano (1.1.1901 a 1.1.1905 - 1.1.1909 a 1.1.1913 - 1.1.1917 a 1.1.1921) e vice-governador do Estado, ao lado de Miguel Rosa (1.7.1912 a 1.7.1916).

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A partir de 1964, o professor Valter Alencar lançou a venda de ações patrimoniais e ordinárias da TV Rádio Clube de Teresina S/A, bem aceitas, por sinal, e, então, foi erguido o majestoso prédio no ponto mais alto da cidade, sem acesso por ruas ou avenidas. Tudo veio depois da construção do chamado “Colosso do Monte Castelo”, até hoje sede da primeira televisão do Estado.
Percalços de ordem política também foram vencidos. Os mesmos que chamavam o idealista Valter Alencar de lunático, cujas idéias “megalomaníacas jamais seriam concretizadas”, faziam tudo para impedir que fosse aprovada, em Brasília, a licença para funcionamento da TV Clube, por puro temor de que o poderoso instrumento fosse utilizado contra os interesses eleitorais dominantes.
Por volta de 1967/1968, o professor Valter Alencar comprou as ações do Jorge Chaib que, procurador do INPS, fora nomeado superintendente do órgão, com impedimento de figurar numa empresa concessionária do governo federal. Permaneceram na sociedade Nogueira Filho e o coronel Pedrinho Borges, com apenas 20% das ações.
A 3 de dezembro de 1972, após comprar as ações do Nogueira Filho e do coronel Pedrinho Borges, em pleno governo desenvolvi-mentista de Alberto Silva, o professor Valter Alencar botou para a funcionar a TV Clube - canal 4, prefixo ZYD-350.
O “Colosso do Monte Castelo” passou a denominar-se “Edifício Presidente Médici”, em cujo governo (1969 a 1974), através de portaria do Ministro das Comunicações Higino Corsetti, concretizou-se o sonho. Estava no ar “A Força de um Ideal”, que funciona, ainda hoje, na atual Avenida Valter Alencar, 2120, do Bairro Monte Castelo. Os jornalistas Teddy Ribeiro, diretor de jornalismo da Rádio Clube, e Elvira Raulino lançaram a pedra fundamental e trataram da liberação do canal. Mauro Bezerra, ex-secretário de governo do prefeito Jacson Lago, de São Luís, era o diretor administrativo. O professor Pedro Mendes Ribeiro, diretor geral, depois das vendas das ações para o professor Valter Alencar, assumiu a diretoria de esportes da TV Clube, ainda hoje a maior rede de televisão do Piauí.

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