sábado, 27 de novembro de 2010

Novembro, mês do Anjo Torto

CANTIGA PIAUIENSE PARA LENA RIOS

Sempre andei por um caminho
Que não conhecia bem;
Sequer me lembro se vinha
Sozinha, ou se com alguém
E nem sei se aqui chegada
Faço morada, me aquieto
Pois é certo que procuro
Algo que deve nadar perto:
Mas o que vejo é incerto
E o que consigo não dura.
(Eu sempre quis outra vida
Eu sempre quis ser feliz,
Por isso naquele tempo
Fiz minha mala e parti)
Sempre andei por um caminho
Que não sabia direito;
Do que perdi na viagem
Já me esqueci por completo
Não guardei nada e o que trouxe
Eram apenas utensílios
De fácil desprendimento:
Dois filhos que nunca tive
Um velho anel de família
E uma saudade no peito.
(Eu sempre quis outra vida
Eu sempre quis ser feliz:
Dos dois filhos, da saudade
E até do anel, me desfiz).
Sempre andei por um caminho
Que não tem ponto final
E a paisagem que eu via
Era toda e sempre igual:
Depois da noite outro dia
Com suas mesmas desgraças,
Mas também algumas casas
Com jantar posto na mesa.
Agora:
EU SEMPRE QUIS SER CONTENTE
E PODE SER QUE EU SEJA. 30/10/71. Sábado.


* Kenard Kruel - Cantiga Piauiense para Lena Rios é a prova do quanto o Torquato Neto gostava de você.
Lena Rios - Pois é, menino, sou eu toda verdadeira nela. Um dia, eu cheguei na casa do Paulo Lima, irmão da Marina Lima, que é empresário e assim que entrei ele disse: “Olha a nova musa do Torquato Neto!” Como assim, perguntei?. E ele me respondeu, de pronto: “A Gal Costa me ligou hoje de manhã dizendo que o Torquato Neto tem uma nova musa, que é você, Lena Rios”. O Paulinho estava produzindo um dos shows dela, lá no Siqueira Campos, e estavam se falando muito. Ele pegou o jornal Última Hora (a Lena pega o jornal e mostra a coluna Geléia Geral, dia 30 de outubro de 1971, sábado) e estava lá em letras garrafais: Cantiga Piauiense para Lena Rios. Vocês me dêem licença!, mas eu acho uma das letras mais mais bonitas de Torquato Neto.

Kenard Kruel – Você queria o quê?
Lena Rios – Não, não é só porque foi feita pra mim, não! Não é porque eu o inspirei, não! Mas, pela forma como o Torquato Neto me retratou. Neste poema o Torquato Neto retratou tudo o que eu falei pra ele, minha vida, minha família, meus sonhos, minhas esperanças, minhas angústias, tudo. Não tem aquele anel com pedras de rubi vermelho? Aquele anel que a gente usava muito no interior, que passava de mãe pra filha? Eu desembarquei no Rio de Janeiro com um anel daquele, com a pedra de rubi e tudo, mas eu tive que vendê-lo pra comer mais na frente. Eu disse ao Torquato Neto que o meu sonho era ter dois filhos (tive três, o Marcelo, o Caio e o Francisco). O que o Torquato Neto escreveu, nesta letra, era tudo que eu sentia naquela época. Isso provocou um ciúme danado em muita gente.

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