sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Desastre Rodoviário da Cruz do Cassaco

Registro do Desastre Rodoviário da Cruz do Cassaco.

Anteontem, pela manhã, em busca do leite e dos pães dos cabeças de sangue, fui vender uns livros na Assembléia Legislativa do Estado. Na sala da Associação dos funcionários (ASALPI), encontrei com o historiador Lourival Santos, diretor do Arquivo da ALEPI, que, solidário, comprou um exemplar de História do Piauí, de minha autoria em parceria com o mano Gervásio Santos, o incansável homem de todas as greves provocadas ou apoiadas pelo PSTU na Fazenda Piauí. O dinheiro estava na bolsa, deixada em sua gaveta, na sala do Arquivo, que fica na Biblioteca Costa Andrade. Admirado com a estrutura e a organização da Biblioteca, que precisa, agora, ter apenas livros para ser completa, Lourival Santos fez questão de me mostrar os equipamentos que compõem o espaço, coisa de primeiro mundo. As estantes são abertas por um mecanismo que parecem porta de cofre de banco (mas, bancos modernos, a bem da verdade). Numa delas, num canto, uma caixa de plástico, e, dentro dela, algumas fotografias. Como sou vidrado em fotografias, fui vê-las. Para meu espanto, surpresa, emoção, sei lá mais o que, quatro fotografias do acidente de 4 1958, que ficou conhecido com o Desastre da Cruz do Cassaco, ocorrido no KM 14, da Rodovia 316, na proximidade do povoado de Morrinhos (atual Demerval Lobão), que conto com mais detalhes no livro que lançarei em breve, intitulado Chagas Rodrigues: um marco na história político-administrativa do Piauí. Abaixo, uma palhinha da obra.

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Na manhã do dia 4 de setembro de 1958, uma caravana política saiu de frente ao Hotel Piauí rumo a Água Branca e a São Pedro, no Sul do Estado, para comício em busca de votos. Eram três veículos: um automóvel Mercury vermelho, dirigido por José Raimundo Gomes, com Demerval Lobão, Marcos Parente, o médico carioca Rubem Perlingeiro e o advogado e cronista José Ribamar Pacheco; uma camioneta Ford, dirigida por Miguel, com o coronel Diogo Lustosa, Raimundo Carvalho, Adaulino Barbosa Lopes, e o candidato a deputado estadual Joaquim Gomes Calado, e um Jeep Willys, que conduzia outros participantes da caravana. De repente, no KM 14, da Rodovia 316, na proximidade do povoado de Morrinhos (atual Demerval Lobão), o Mercury, ao tentar ultrapassar um caminhão que desenvolvia alta velocidade, deixando espessa nuvem de poeira, o que impedia a visibilidade do motorista, foi supreendido com a forte batida provocada por um caminhão do DER, que vinha atrás (e fazia a estrada), vitimando Demerval Lobão, Marcos Parente, José Ribamar Pacheco, Rubem Perlingeiro e o motorista José Raimundo, além de 6 homens que trabalhavam na obra.
Chagas Rodrigue, no dia anterior, tinha participado de um comício em Piripiri, que terminou muito tarde. Cansado, resolveu dormir por lá mesmo. Por isso, escapou deste brutal acidente, que a história registra como o “Desastre Rodoviário da Cruz do Cassaco”.
A razão do nome é porque os trabalhadores transitavam na estrada de piçarra, em cima de mulas, sob o sol quente, com a poeira (do barro vermelho) pregando em suas roupas e em seus corpos que, de longe, pareciam tochas humanas.
A notícia do acidente caiu como uma bomba nos meios políticos piauienses porque desfalcava a oposição de seus principais trunfos na luta contra a oligarquia pedessista comandada pela família Freitas. E as eleições se dariam um mês depois, a 3 de outubro de 1958.
Chagas Rodrigues, deputado federal, 37 anos de idade, foi o nome escolhido, pela coligação PTB-UDN, e ganhou as eleições. Ao lado do vice-governador Tibério Nunes, governou o Estado de 31 de janeiro de 1959 a 3 de julho de 1962, quando renunciou ao cargo para pleitear, nas eleições de 3 de outubro, as candidaturas, simultâneas, ao Senado e à Câmara dos Deputados, como a lei permitia naquele tempo. Era a primeira vez, no Piauí, desde a República Velha, aos nossos dias, que um governador renunciava para candidatar-se a um cargo eletivo. Em seu lugar, assumiu o vice-Governador Tibério Barbosa Nunes.
Chagas Rodrigues, por manobras diversas que maculam a história política piauiense, perdeu para o Senado, mas ganhou para a Câmara dos Deputados, com mandato de 1963 a 1967.

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