domingo, 28 de novembro de 2010

Chagas Rodrigues e o exílio na própria pátria

Chagas Rodrigues foi cassado, a 29 de abril de 1969, e teve os seus direitos políticos suspensos por dez anos, com base no AI-5, decretado, a 13 de dezembro de 1968, pelo presidente Costa e Silva (1967 a 1969). O AI-5, redigido pelo ministro da justiça Luís Antônio da Gama e Silva, foi o mais terrível instrumento de força lançado pelo regime militar, conferindo ao presidente da República poderes totais para reprimir e perseguir as oposições, fechar o Congresso Nacional, as Assembléias Legislativas e as Câmaras dos Vereadores, legislar em todas as matérias durante o fechamento dos órgãos parlamentares, intervir nos Estados e municípios, sem as limitações previstas na Constituição, suspender direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais ou municipais, demitir, aposentar, remover funcionários públicos, restringir as liberdades individuais e suspender a garantia de Habeas-Corpus.

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Chagas Rodrigues foi o primeiro parnaibano deputado federal, governador (inclusive a renunciar para candidatar-se a cargo eletivo), senador, e o único político piauiense cassado, na área federal.

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Para o enterro de dona Ignésia Caldas Rodrigues - O Dr. Djalma Veloso era governador do Piauí (14.8.1978 a 15.3.1979), quando soube que dona Ignésia Caldas Rodrigues, mãe de Chagas Rodrigues, estava hospitalizada, em estado grave. Imediatamente ligou para o General Sérgio de Ary Pires, comandante do 4º Exército, sediado em Recife, contou sobre o estado de saúde dela, e perguntou como seria visto recebendo, no Piauí, o ex-governador Chagas Rodrigues, neste momento tão delicado para ele. O general Sérgio Pires respondeu: “No meu mais alto conceito. Diga ao ex-governador Chagas Rodrigues que ele pode vir ao Piauí, porque não haverá nenhuma retaliação por parte dos militares contra ele.”
Chagas Rodrigues, muito comovido, veio ao Piauí, tendo o Dr. Djalma Veloso colocado toda a estrutura do governo à sua disposição, prontamente recusada por ele, sob alegação de que não queria criar nenhum embaraço para a sua pessoa. “Djalma, só esta atitude de interceder por mim, neste momento, já me basta para tê-lo no meu mais alto conceito. Não se preocupe que me considero servido por seu governo, mesmo não podendo aceitar a estrutura que você está me colocando à disposição”, disse ele, visivelmente emocionado. “Dona Ignésia veio a falecer no dia 30 de dezembro de 1979. Chagas Rodrigues participou de todos os seus últimos momentos, inclusive do enterro que aconteceu no campo santo da Parnaíba, sem qualquer contratempo”, declarou o Dr. Djalma Veloso16.
O General Sérgio de Ary Pires ao comparecer à cidade de Caxias (MA), para receber homenagens das autoridades locais e estaduais, fez questão da presença do governador Djalma Veloso na comitiva.

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Exilado na própria pátria - Em Brasília, Chagas Rodrigues passou a lecionar no CEUB (Faculdade particular) e advogar no foro da Capital Federal. Não podendo visitar sua terra natal, como acontecia com outras lideranças políticas, como JK e Miguel Arraes, se sentia um exilado na própria pátria, como se declara no poema

Estrangeiro na própria pátria

ouve, amiga
deve ser triste viver em terra alheia.
Longe da pátria,
longe da família,
longe dos amigos.
Porém ainda mais triste,
viver como estrangeiro
na própria pátria,
com o mandato eletivo cassado,
com os direitos políticos suspensos,
e proibido de rever
a cidade natal,
o Estado querido
e o povo amado.

Brasília, novembro de 1976

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