sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O goleiro e o poeta

Roberto Veloso.

Elmar Carvalho

Neste domingo, falei ao telefone com Roberto Veloso. Foi meu colega no curso de Direito, na UFPI. Fiz parte de sua chapa, que concorria ao Diretório Central dos Estudantes. Embora bem votados, perdemos a eleição. Após o término da faculdade, foi ser promotor de Justiça no Maranhão. Atuou na Comarca de São Bernardo, onde conheceu meu amigo Antônio Gallas Pimentel, jornalista e escritor, então empregado do Banco do Brasil naquele município. Posteriormente, logrou êxito no concurso para juiz federal. Pediu remoção para o Piauí, onde esteve pelo período de poucos anos, porquanto resolveu retornar ao Maranhão. Nessa sua temporada piauiense, voltamos a nos reencontrar algumas vezes, em eventos maçônicos, solenidades do Poder Judiciário e em atividades futebolísticas. No esporte, atuava predominantemente como goleiro, no time da AMAPI, tendo eu sido seu reserva na curta temporada em que retornei às práticas pebolísticas, tanto porque ele treinava mais, como pelo fato de que é bem mais novo do que eu, sem descartar a justificativa de que antiguidade é posto, e ele era mais antigo na equipe. Certa feita, ao contar esse fato a uma pessoa, cujo nome já não recordo, esse amigo, revelando ter um legítimo espírito sarcástico, disse-me que dava por visto a minha qualidade de golquíper, uma vez que eu era reserva do Roberto, que não era nenhum “aranha negra”. Contudo, contesto: eu e o Roberto Veloso éramos bons goleiros, e não tenho notícia de termos tido alguma indigestão em virtude de termos engolido algum “frango” escandaloso. Ao telefone, revelou-me estar abandonando o esporte.

Algumas vezes conversei com ele sobre cultura e literatura. Quando eu dizia alguma irreverência ou ironia, Roberto soltava uma retumbante gargalhada, em sua maneira simpática, espontânea e expansiva de ser. Na viagem que fez para conhecer as nascentes do Parnaíba, na campanha de preservação do Velho Monge, contaram-me que ele, dentro do barco, ao passar pela ribeirinha Comarca de Ribeiro Gonçalves, em que fui juiz, teria recitado uns versos de minha autoria. Se não estou enganado, isso foi à noite, e os versos eram do meu poema Noturno de Oeiras; ele, com a sua voz grave e profunda, empostando-a para um timbre quase fantasmagórico, dizia que era meia noite, e metade era silêncio, metade, solidão. Por outras pessoas, inclusive pelo Dr. Ivanovick Pinheiro, defensor público desta minha atual Comarca de Regeneração, tenho conhecimento de que ele sabe de cor trechos de poemas meus. Devo dizer que numa época em que poucos leem, mormente poesia, que se queda como a mais tímida e a mais esquecida das artes, isso termina sendo um grande elogio, sobretudo por não ser de corpo presente, em obediência aos hipócritas salamaleques das convenções sociais. Mandei-lhe um e-mail, com o endereço de meu blog. Respondeu-me que o visitaria, e que me considerava um grande poeta. O “grande” fica por conta de sua bondade e estima. Como prova do que acabo de contar, ao telefone recitou-me vários versos de meu poema Auto-Apresentação, no qual digo que joguei roleta russa com o tambor cheio de balas e que apostei contra a sorte. Contou-me que, ao recitar esses versos em sala de aula, um aluno, em aparte irreverente, retrucou que o revólver batera catolé. É uma grande alma, e sabe apreciar e reconhecer os dons e os méritos dos outros.

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