Conselheiro Saraiva
Teresinense anda por fora de Conselheiro Saraiva, que só bumbum de índio. Quase ou nada sabe sobre o fundador da cidade, episódios envolvendo a substituição da capital Oeiras pela antiga Vila do Poti, seguida para a Chapada do Corisco, mais ao centro da futura cidade. Nem sabe da profunda amizade do conselheiro com o imperador Pedro II. Já cobri, porém, minhas nádegas da vergonha, depois de ler Cid Dias, consagrado historiador do Piauí. Sempre nos encontramos, às sextas, no Teresina Shopping para tira-gosto com deliciosas pitadas de história. Engenheiro Cid, livros publicados, técnico, mas fervoroso literato, ex-secretário de governo, modéstia franciscana escondendo-lhe o talento de historiador. À mesa, desajeitado e dócil professor Baú, cheio de trejeitos na cara, mastigando farofa, escondendo ralos dentes, ouve com atenção as histórias de Cid.
(*) José Maria Vasconcelos
Teresinense anda por fora de Conselheiro Saraiva, que só bumbum de índio. Quase ou nada sabe sobre o fundador da cidade, episódios envolvendo a substituição da capital Oeiras pela antiga Vila do Poti, seguida para a Chapada do Corisco, mais ao centro da futura cidade. Nem sabe da profunda amizade do conselheiro com o imperador Pedro II. Já cobri, porém, minhas nádegas da vergonha, depois de ler Cid Dias, consagrado historiador do Piauí. Sempre nos encontramos, às sextas, no Teresina Shopping para tira-gosto com deliciosas pitadas de história. Engenheiro Cid, livros publicados, técnico, mas fervoroso literato, ex-secretário de governo, modéstia franciscana escondendo-lhe o talento de historiador. À mesa, desajeitado e dócil professor Baú, cheio de trejeitos na cara, mastigando farofa, escondendo ralos dentes, ouve com atenção as histórias de Cid.
Em seu livro, Piauhy, fixei-me no capítulo sobre Conselheiro Saraiva, habilíssimo articulador político, desde muito jovem, consultado frequentemente pelo imperador Pedro II, com quem desfrutava saudável amizade. Nomeado governador da Província do Piauí, aos 27 anos, em 1850, encontrou intenso movimento, em Oeiras, contra a mudança da capital, no princípio, para Parnaíba. Já se articulava a transferência desde o século XVIII, quando o governador das capitanias do Maranhão e Piauí, Fernando de Noronha, que conhecia a fertilidade da região entre os rios Parnaíba e Poti, abundante em madeira, peixes e solo fértil, fácil comunicação fluvial, contrastando a aridez e distância de Oeiras. Sem esperar a aprovação da transferência da capital, José Antônio Saraiva apressou-se em convidar todos os moradores da Vila do Poti a se tranferirem para a Chapada do Corisco, prometendo-lhes a urbanização. Confiante no imperador e no honroso nome escolhido de Teresina, em homenagem à imperatriz, quem negaria antecipada decisão? A moda segue até hoje: invasores de terra inauguram favelas com abençoada mãozinha patrocinadora, como Wall Ferraz, Firmino Filho e Mão Santa.Extremado estudioso, o baiano Antônio Saraiva conquistou cobiçados espaços do império: juiz, senador pela Bahia, ministro da Guerra, da Marinha, Fazenda, Justiça, presidente de Alagoas e do Conselho de Justiça, lembrado ainda hoje, como Conselheiro. Tribuno consagrado, fino e sábio articulador político, adversários respeitavam-no. Impôs-se como cidadão justo, sem perseguições, precupado com o social, combateu a corrupção, além de notável estadista da época. Criou a lei Saraiva, que libertava idosos da escravidão. Culto, talentoso renunciava a cargos, se não condiziam com a ética, virtudes que o aproximaram do espirituoso imperador, elevando-o a cargos, nas diversas províncias, e na diplomacia, durante a Guerra do Paraguai e conflitos de fronteiras.
No seu livro, Cid Dias coleciona 38 cartas e bilhetes que revelam os vínculos amigáveis entre Saraiva e Pedro II, fidelidade que não se extiguiu com a queda do império. Textos curtos deleitam curiosidades sobre o fundador de Teresina.Nos memoráveis discursos do tribuno Saraiva, um trecho parece dirigido à conturbada elite política de hoje:" A influência do Parlamento diminui a olhos vistos, mas cresce a influência da imprensa. Estamos em plena decadência das câmaras. "As câmeras, hoje, registram a sujeira das câmaras. Uma rima triste de uma sórdida canção.
(*) José Maria Vasconcelos é cronista.
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