quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Sobrevivente do Nós e Elis

George Mendes. Foto de Chagas Silva.

George Mendes

Nunca foi fácil enfrentar o palco do Nós e Elis.O Elias Prado Júnior o idealizou como um centro cultural, mas que servia bebidas e tira-gostos. Ao mesmo tempo, foco e dispersão para uns, magia para outros. O lugar, aberto, no canto de uma praça de um conjunto habitacional classe média, o Universitário, conseguia reunir a um só tempo, o ponto ideal para sair cedo, namorar e encontrar amigos e abrigar o fim-de-noite com todas as suas consequências.

A música, a arte, enfim, era a atração principal, mas o recheio não era nada desprezível. Ao contrário, fazia daquele ambiente um caso a parte. Participar do show como artista era também entrar numa disputa como consumidor pela atenção.

O palco nem era grande nem elevado o suficiente para permitir relevo à figura do artista e sua música. A proximidade é que era o barato. O som que nunca foi da casa, sempre alugado por quem chegava, consumia preciosos recursos de quem ali se apresentava. E tinha lá suas deficiências. Cobrava tempo do artista para carregar, montar e desmontar. Um ritual sem fim de quarta a domingo. A iluminação era, digamos, natural. Nada especial para apresentações musicais. A casa oferecia de verdade o agendamento da atração. Mas era bom! E como era bom.
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Com tudo isso, creio, ninguém que tocasse, cantasse, compusesse, deixou de lá comparecer e encarar a briga pela atenção de um público, que em sua grande maioria, lá estava para curtir outras paradas e não só a boa música.

O Nós e Elis era a praia de Geraldo Brito e seu séquito de admiradores, tietes, parceiros e discípulos; do Cruz Neto, Naeno, Grupo Varanda, Assis Batista, Júlio Medeiros, Rubens Lima, Fátima Lima, Durvalino Filho, Edvaldo Nascimento, Grupo Candeia, André Luiz, Laurenice França e os irmãos Ferreira – Robert, Carlim Kinha; da Zezé, Ana, Tim e Jabuti, todos Fonteles da Parnaíba; como também do Roraima, Rosinha Lobo, Márcio Menezes, Rosinha Amorim, Solange Leal, Márcia Martin, Aurélio Melo, Zé Rodrigues, Edino Neiva, Paulo Aquino, Ana Miranda, Garibaldi Ramos, Janete Dias, Ronaldo Bringel, Yeyé Demes, Nilson Coelho, Chagas, Rubeni Miranda, Viriato Campelo, Teotônio, Carlinhos Menezes, Vincent, Gondim Neto, Paulo Batista... que esqueci alguém? Desculpem-me. Toda essa gente alegre, festeira, sensível e talentosa lá esteve. Cada um na sua, mostrando uma face piauiense da música popular brasileira.

Bacana também era ver os que vinham de fora por qualquer motivo beber daquela fonte de encontros e prazeres. E o Nós e Elis despertava na gente um certo orgulho pelo charme que dali emanava. Nós achávamos legal sugerir uma ida ao local como ponto de reunião de gente da arte e cultura que também bebia, comia, fumava e curtia.Certamente não foram poucos os encontros e desencontros ali havidos. As mesas, como não eram muitas, disputadas.

Outra lembrança também me marcou. E esta não foi positiva. Foi dolorosa para mim. O ano era o de 1993, já mais para o fim do encerramento das atividades do Nós e Elis. Eu fora escolhido secretário de indústria e comércio de Teresina e dentre as minhas atribuições recebi uma especialmente difícil: conter abusos de som que perturbavam a vizinhança de determinados locais. Adala Carnib, morador das redondezas, à frente, relatou os sofrimentos vividos e preparou abaixo-assinados. A pracinha onde funcionava o bar, restaurante, casa de shows de minha predileção era um desses lugares de prazer e diversão e abusos. Claro que havia abusos. Claro que havia perturbação pela “poluição sonora”. Mas, poxa, o que se chamava de abuso, poluição sonora, etc, era causada justamente pela minha trupe. E eu tinha que fiscalizar. Aí a turma, motivada pelo Elias, deu-me com a luva macia na cara: reuniu todos os interessados e tachou-me de querer fechar espaços onde muitos se divertiam e ganhavam suas vidas também, trabalhando. Fizeram manifesto público. Vivi esse conflito e o local não foi fechado por minha ação. Mediei o quanto pude.

Mas a charge publicada num jornal foi especialmente dura: mostrava um sujeito como que disfarçando, assobiando, no primeiro plano, enquanto a galera gritava atrás: o rapa está chegando! Descer do palco e ser tachado de responsável pelo rapa foi dose caubói de Old Eight.

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