Laurentino Gomes. Foto sem crédito.
Fonseca Neto
Jornais locais repercutiram nota de Élio Gaspari sobre livro de Laurentino Gomes a ser lançado em 2010. Disse Gaspari: "Laurentino publicará em setembro de 2010 seu novo livro, '1822'... Para recontar a história da Independência, ele foi ao sertão piauiense e visitou o campo da batalha do Jenipapo, em Campo Maior. Nela morreram 400 brasileiros ignorados pela história. Deles há a lembrança dos túmulos e um monumento de concreto, perdido numa mata de carnaúba" (FSP, 30/8/2009, p. A 17).
Gomes é o autor de um livro que é sucesso de vendas -"1808"- focando o episódio da transferência do governo português para este lado do Atlântico. Um jornalista apaixonado pelos temas da história. Veio ao Piauí palestrar no Salipi 2009 sobre "1808", quando ouviu falar da batalha do Jenipapo. Manifestou curiosidade sobre o fato e o levei a Campo Maior para conhecer o campo da Batalha. Era tarde limpa aquela do dia 13 de junho de 2009. Ali descemos, eu, Laurentino, e sua esposa. Fomos bem recebidos pelo funcionário-guardador. Logo as dimensões físicas grandiosas do Monumento aos Heróis do Jenipapo chamaram a atenção dele; visitamos o Cemitério e arredores. Fotografou e filmou o que pode e quis ser fotografado e filmado protagonizando sua "viagem de campo". Fez muitas perguntas. Estripulia de poucos, ele fez: escalou os 40 metros do obelisco e lá de cima capturou belas imagens dos campos maiores cortados pelo Jenipapo e plasmados da ventura do povo do norte em prol de liberdade. "Gratificado: vi as trilhas dos lutadores e a torre da igreja". E eu disse que o dono dela -Santo Antonio do Surubim Aparecido- justo naquela hora saía em procissão.
Achou bela a carnaubeira; ao longo do caminho aprendeu distinguir uma palmeira de carnaúba de uma, idem, de babaçu. Percebi que o impactou a constatação da ausência desse episódio tão marcante dos livros de história do Brasil. Lembrei-lhe do viés oficial-ipiranguista que foi cultivado ao longo do tempo em antigas batalhas pela memória do fato, lavado ideologica e cuidadosamente o sangue derramado no chão da "independência". Assim, independência e morte tornaram-se "Independência ou Morte"-o quadro de P. Américo virou a "imagem-texto" instauradora da narrativa-mestra da independência nacional. Com efeito, o norte ficara de fora: "luta de povo miúdo é para esquecer".
Falei-lhe do longo processo de insurgência havido nesta região da velha América portuguesa com prolongamento, p. ex., na saga guerreira balaiense; do papel de Fidié; destes sertões lastrados de "mortos paternais" do príncipe Imperador. Esses "mortos paternais" chamaram a atenção do jornalista de quem logo lembraria para título de um capítulo do próximo livro. Aliás, novo livro do qual fala Élio Gaspari.
De fato, Laurentino Gomes está imerso em muita leitura com vistas a compor um interessante livro sobre o episódio que vem sendo chamado de Independência do Brasil. Uma vez mais (e o marketing está feito) o chamariz será um titulo-data: "1822". Inclina-se ele por romper o lugar-comum da narrativa insossa e convencional mitificada na pintura famosa. Sugeri-lhe que faça mais intensa sua imersão através dos brasis e que busque se apropriar com mais percuciência da historiografia regional sobre o assunto; que respire além dos maços de documentos oficiais da velha Corte -Corte que jamais soube o que é o Brasil além das Minas. Mas que tinha um medo danado do ronco insurgente de sua população.
Tanto isso é verossímil que até hoje a maioria dos historiadores daquela região ignora porque o desfecho da Independência, ainda que precário, aqui se consolidou apenas depois de 1823; bem além. Até sugeri a ele que trocasse a data-título do livro para "1823" -ele riu. Penso que atenderá um justo reclamo de Hermínio Conde.
Fonseca Neto, do DGH/UFPI, escreve às segundas-feiras no jornal Diário do Povo.
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