Rio Bar: uma das melhores peixadas de Teresina.
Foto de Kenard Kruel.
Pastelzinho? Croquetinho? Bolinho? Empadinha? Ir pra um boteco no Piauí esperando encontrar esse tipo de tira-gosto é perda de tempo.
Não sei se por causa da história de que “beber comendo ajuda a não ficar muito bêbado”, nós aqui caprichamos na comidinha; salvo raras exceções, a ordem é ter comida que dê “sustança”; na mesa.
Em uma pesquisa que fiz via Orkut com alguns botequeiros assumidos, o tiragosto mais votado foi o “Arrumadinho”. Consiste em carne de sol trinchada, feijão tropeiro e arroz maria-isabel, tudo junto no mesmo prato, bem arrumadinho, e coberto por uma chuva de cheiro-verde picado.
O melhor do Piauí, segundo os entrevistados, é o do bar do Pernambuco. A panelada, já citada aqui no Overmundo, é outra delícia muito pedida para acompanhar brejas geladíssimas. Feita com bucho de boi muito bem temperado – tem que ter muita folha de louro, pimenta do reino e cebola -, o bom é comer com farinha, gotinhas de limão e pimenta. A que é vendida no Mercado da Piçarra é famosa, e aos sábados, quando o mercado fica lotado, uma cerveja antes do almoço (que como já disse o mestre Science é muito bom pra ficar pensando melhor) acompanhada por um pratinho de panelada é obrigatório.
No Cantinho do Jambo a panelada é o tira-gosto mais pedido.A carne de sol também é boa opção. Depois de passada na manteiga com rodelas de cebola, é trinchada e aí é só comer. É quase irmã siamesa da paçoca, as duas se completam com perfeição. E a paçoca nada mais é que carne de sol socada no pilão com cebola e farinha, até ficar uma espécie de farofa (mas não vá chamar paçoca de farofa porque isso é uma ofensa!), que é passada na manteiga e servida com cheiro-verde picado. Se pedir esse prato como refeição e não como tira-gosto, vem ainda com arroz maria-isabel e se o dono do boteco / restaurante for bem esperto, uma bananinha pra acompanhar. A bananinha é uma estratégia para fazer os clientes voltarem. Conheço gente que prefere um lugar a outro só por causa da dita.
No restaurante Carnaúba, que funciona há mais de quinze anos, os garçons contam que tem gente que chega pensando em só tomar cerveja e comer um tira-gosto, mas acaba pedindo refeição – especialmente de carne de sol, carneiro ou linguiça caseira - porque sai mais em conta.
O sarapatel é um petisco polêmico. Quem gosta, gosta muito, ama e adora. Quem não gosta morre de nojo e não come nem pra ganhar dinheiro. É feito com vísceras picadas (pode ser de porco, de carneiro, de bode) e muito tempero; come-se com gotinhas de limão e farinha.E numa cidade abraçada por dois rios, claro que tem que ter tira-gosto de peixe.
No Pesqueirinho, restaurante e bar tradicional, as piabas fritas pedem a companhia de uma cerveja gelada. Elas são pescadas lá perto e chegam fresquinhas; são fritas em óleo bem quente até ficarem torradíssimas.
Na beira do Rio Parnaíba, dezenas de lavadores de carros oferecem seus serviços todos os dias e aos sábados o lugar já virou point. Quem quiser esperar a lavagem do carro tomando uma geladinha tem que chegar cedo, senão não encontra mais lugar para sentar. Lá, as manjubinhas (são peixes pequeninos) fritas são uma atração à parte e come-se com vinagrete e farofa. Uma das melhores peixadas é no Rio Bar, quase em frente ao Supermercado Carvalho, na Avenida Maranhão, 1335 (fone 86 3213 5340).
O publicitário Siqueira Campos, botequeiro de carteirinha e membro do Conciliábulo de Teresina – um grupo de respeitáveis senhores que se reúne (num boteco, claro) para tomar cerveja ou uísque ou rum ou cachaça e falar da vida da cidade e seus moradores – afirma categoricamente que a piaba frita é o tira-gosto mais piauiense que existe. “Eu só vejo piaba frita aqui e no Ceará, mas a daqui de Teresina é a melhor de todas, bem feita, bem fritinha, é uma delícia”.
Nos fins de tarde de sábado e domingo, o caranguejo é de lei. Vindo de Parnaíba, o bichinho tem fãs ardorosos. Em bares como o Salute e o Novo Mangue, são vendidas centenas de cordas de caranguejo nos dias de maior movimento. Nada de patinha à milanesa, o que o povo aqui gosta é de caranguejo toc toc, para quebrar as patas e comer tudo, inclusive a cabeça. Em alguns bares, uma gentileza agrada e muito: depois que se come as patas, é só pedir com jeitinho que o garçom leva os “peitos” para serem cozidos em molho de leite de coco e traz de volta pra mesa, para alegria dos mais fanáticos.
E já que falamos de caranguejo, não dá para deixar de citar o camarão ao alho e óleo do bar do Daniel, considerado o melhor da cidade. “Quando pedimos mal passado, aí sim fica perfeito; diz Siqueira, que cita ainda o espetinho do Zé de Melo, o peixe do VTS, a panelada da Lili Bolero e o frango do Zé Filho como petiscos que são a cara dos bares do Piauí. Ele afirma que comida de boteco tem que ser pouquinha, servida em porções pequenas, para que os clientes peçam sempre mais. Alguém discorda?
No último encontro de overmanos e overminas no Rio, comentamos que seria interessante fazer um paralelo entre o que se come nos botecos de cada lugar. O Piauí já mostrou, quem mais se habilita? Adianto que é um texto, literalmente, muito gostoso de fazer!
Nenhum comentário:
Postar um comentário