sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Arte by Netto

Ronaldo Werneck

Mestre imbatível & profético poeta do Piauiês – haja vista as quatro edições da Enciclopédia Internacional que trata de tão transcendente tema, e só não o esgota porque ele é mesmo inesgotável – Paulo José Cunha retorna com este Perfume de Resedá às trilhas da poesia, 25 anos após o lançamento de Salto sem Trapézio. E não se permite usar qualquer rede ao se lançar em voo cego, mas visionário, sobre essa sua vida teresina & atávica,

onde a memória é pouca
e o tempo é vento
e passa”.

Um belo livro-poema, pleno de pés-de-página, que esse tal de piauiês precisa mesmo de saborosas explicações pra mode de ser entendido. Ils ont oublié leur propre enfance, disse um dia aquele Sartre existencial. Paulo José, não. À margem do esquecimento, ela está toda aqui, sua infância-poesia – tátil, sensorial, recendendo a resedá e remetendo a um tempo presente-passado:

assim
em ritmo de ventarolas e contas de rosário
a vila se aviava devagar
como a vida deve ser”.

Essa vida que se vaivém só

para provar que o impossível
é apenas o que ainda não aconteceu”.

Saga-vida:

o povo daquele tempo
adormecia em sépia
nos porta-retratos
ou amarelecia em séculos
nos álbuns de família”.

O que há, o que havia, é a vida que se avia como

o cristal daquela infância
há tanto tempo partida
ressuma agora
pálido esmaecido”.

Vida que se avia e que se vaivém como

o cajueiro
uma pedra
o jipe de buriti
e esta mania
de caminhar sobre as nuvens”.

Paulo José Cunha neste livro sua melhor moeda: um sólido poema-de-um-só-folego, pleno de pedras-de-toque.

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