Arte by Netto
Ronaldo Werneck
Mestre imbatível & profético poeta do Piauiês – haja vista as quatro edições da Enciclopédia Internacional que trata de tão transcendente tema, e só não o esgota porque ele é mesmo inesgotável – Paulo José Cunha retorna com este Perfume de Resedá às trilhas da poesia, 25 anos após o lançamento de Salto sem Trapézio. E não se permite usar qualquer rede ao se lançar em voo cego, mas visionário, sobre essa sua vida teresina & atávica,
“onde a memória é pouca
e o tempo é vento
e passa”.
Um belo livro-poema, pleno de pés-de-página, que esse tal de piauiês precisa mesmo de saborosas explicações pra mode de ser entendido. Ils ont oublié leur propre enfance, disse um dia aquele Sartre existencial. Paulo José, não. À margem do esquecimento, ela está toda aqui, sua infância-poesia – tátil, sensorial, recendendo a resedá e remetendo a um tempo presente-passado:
“assim
em ritmo de ventarolas e contas de rosário
a vila se aviava devagar
como a vida deve ser”.
Essa vida que se vaivém só
“para provar que o impossível
é apenas o que ainda não aconteceu”.
Saga-vida:
“o povo daquele tempo
adormecia em sépia
nos porta-retratos
ou amarelecia em séculos
nos álbuns de família”.
O que há, o que havia, é a vida que se avia como
“o cristal daquela infância
há tanto tempo partida
ressuma agora
pálido esmaecido”.
Vida que se avia e que se vaivém como
“o cajueiro
uma pedra
o jipe de buriti
e esta mania
de caminhar sobre as nuvens”.
Paulo José Cunha neste livro sua melhor moeda: um sólido poema-de-um-só-folego, pleno de pedras-de-toque.
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