Foto de Kenard Kruel
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O jornalismo piauiense perdeu um de seus maiores nomes do jornalismo investigativo. Faleceu na madrugada desta quarta-feira (29) no Hospital Pronto Med, em Teresina, o jornalista Montgomery Pessoa Holanda, o 'Montim'. Ele estava internado após passar por uma cirurgia para tratar de problemas de inflamação nas paredes intestinais. O corpo do jornalista Montgomery Holanda foi velado na Capela da Pax União, na Avenida Miguel Rosa, na zona sul de Teresina.
Montgomery Holanda destacou-se no Piauí em veículos de comunicação como os jornais 'O Estado', 'Diário do Povo', 'O Dia' e 'Agora'. Foi subsecretário de comunicação da Prefeitura de Teresina e trabalhou como correspondente da Revista Veja.
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'Montim' era casado, tinha três filhas e deixa saudade entre familiares, amigos e leitores que o admiravam.
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As reportagens de Montgomery Holanda preservavam sobretudo a fonte
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(por Arimatéia Azevedo)
Montgomery Holanda, que os amigos acostumaram chamar de 'Montin" ou, 'chefe Montin', depois que ele assumiu a editoria do jornal O Estado, em 1999, veio do Ceará trazido por Helder Feitosa, o dono do jornal, no início dos anos 70. Era repórter policial daqueles que não se preocupavam em anotar queixas de livro da Central de Polícia. Ele buscava a notícia e, geralmente, bombástica. Cobriu muitos crimes, como o da doméstica Maria das Graças e o motorista mortos em Floriano, até hoje insolúvel, o da doméstica Maria das Mercês, em Teresina, também de autores não identificados, o do carteiro Elzano e fazia reportagens que à época vendiam jornais, como se costumava dizer, e demitiam os concorrentes. Montin fazia o jornalismo que hoje não se vê entre a grande legião de profissionais que abarrotam as redações. Ele tinha uma característica que deve nortear a conduta de todo bom jornalista: guardava as fontes a sete chaves.
Editor do jornal o Estado, que passava por grande transformação editorial no final da década de 70, Montgomery Holanda acumulava também a tarefa de correspondente da revista Veja. Foi no tempo em que os correspondentes tinham o seu clube, o 'Clube dos Correspondentes', dito assim mais elitista, onde, debaixo de um governo duro, que silenciava a imprensa, todos procuravam mandar para os seus veículos o máximo de noticias que não eram aproveitadas pelos jornais locais. Esse clube era formado assim: o próprio Montgomery Holanda (Veja), Wilson Fernando (Jornal do Brasil), Chico Viana (Folha de São Paulo), Alberoni Lemos Filho (O Estadão), Paulo Andrade (O Globo) e Arimatéia Azevedo (O Povo).
Em muitos casos, para a 'taca' não cair em cima de um só, todos os correspondentes mandavam a mesma matéria para seus veículos, dividindo a responsabilidade ou, como ocorria em muitos casos, inibindo as reataliações.
A passagem de Montgomery Holanda como editor de O Estado foi rápida. Ele caiu quando, como correspondente de Veja, escreveu a reportagem da inauguração do Motel Panorama, localizado à época, à entrada de Teresina, na Avenida Miguel Rosa. O motivo: a Veja estampou junto com a reportagem uma foto onde apareciam diante de uma cama redonda (a grande novidade em motéis) o governador do Estado Djalma Veloso, o arcebisto de Teresina Dom José Falcão e outras figuras menos notadas. Aquilo foi considerada um desrespeito, uma agressão a figuras tão ilustres, como se o jornalista tivesse culpa por eles estarem por lá. Mas, mesmo fora da editoria do jornal (assumi o cargo em seu lugar, onde fiquei por exatos nove meses e de onde sai, igualmente por pressão oficial), Montgomery procurou manter-se vivo na mídia.
Até dias atrás, possivelmente alguns meses, encontrando-o no Teresina Shopping, onde se via que ele não estava bem de saúde, Montin foi logo dizendo: 'chefe Ari, eu vou escrever um blog lá no Portal AZ'. Consenti e fiquei esperando. Quem sabe, lá do céu...
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