quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Piauí não “trem” jeito!

Alberto Silva. Foto sem crédito.

Montgomery Holanda

“O algodão floriu, o trem apitou e a cidade se criou...” Foi assim, em vários Estados brasileiros, principalmente no Nordeste, que se criaram municípios, à medida em que a estrada de ferro avançava. Minha terra Natal, Senador Pompeu, no Centro-Sul do Ceará, por exemplo, cidade-pernoite, dos trens de Fortaleza a Crato, no Cariri, progrediu e tornou-se uma das mais importantes cidades cearenses. A maria-fumaça puxava vagões carregados de lã de algodão e seus derivados, como o óleo comestível, sabão e ração para ao gado bovino, produzidos nas quatro usinas existentes até a década de 70.

Lembro-me dos vendedores, que comercializavam os seus produtos na plataforma da estação: pão-de-ló, café, tapioca com coco, bolo, cocada, caju e até água nas “quartinhas” (moringas).Era tudo muito gostoso e guardo boas recordações. As crianças, como eu e adolescentes carregavam os sentimentos de surpresa, emoção e alegria, por entrar e andar num trem pela primeira vez. Só que exagerei: aos 10 anos de idade, um mês após a morte de minha mãe, fugi de casa, entrei no trem e viajei escondido nos banheiros dos vagões, sem pagar a passagem, durante 12 horas, no percurso de 380 quilômetros entre Senador Pompeu e Fortaleza.

PRIVATIZAÇÃO – Tempos que já lá vão e, ainda hoje, não perdôo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, devido a privatização da malha ferroviária federa, em 1997, principalmente a do Nordeste e, mais ainda, a linha Fortaleza-Teresina-São Luís. Sempre foi conhecido o descaso do Governo Federal com respeito às ferrovias, um vantajoso meio de transporte usado largamente, principalmente na Europa. É verdade que a ferrovia dava prejuízos, mas não precisava matar o boi para se livrar do carrapato. Afinal, o próprio governa federal era o culpado pela situação, pois passou a priorizar as rodovias, viajando no sentido contrário do resto do mundo.

Mas como tudo tem seu preço, o Sr. FHC teve, de minha parte, o troco que merecia: embora sendo filiado ao PSDB, desde 1992, só por vingança, não votei no candidato dele à Presidência da República, José Serra, mas em Ciro Gomes.

TREM DO LITORAL – Mas, felizmente (será?), apesar da privatização da Rede Ferroviária Federal, o trecho da ferrovia Altos-Luis Correia, no Piauí, foi cedida, em regime de comodato, por dez anos, ao Governo do Estado, a quem cabe a sua recuperação, sob pena de perder a concessão.

Dói-me pensar que o tempo da locomotiva, – aquela que já fora celebrada como deusa do progresso—permaneceu parado.

A propósito, outro apaixonado por trens, o Bacharel Renato Araribóia de Brito Bacellar, falou-me há uns três anos, que havia sido liberada uma emenda parlamentar do deputado federal Alberto Silva, (por onde andará), de R$12 milhões, para recuperar a linha Parnaíba Luís Correia, incluindo a velha ponte. Mas, ao que parece, o dinheiro criou asas e nada foi feito. Enquanto isso, o governador Wellington Dias continua anunciando a recuperação da linha Altos-Luís Correia, mas fica somente na promessa.

Pelo que venho pesquisando sobre o assunto, percebi que o abandono não ocorreu apenas nas estações e pátios ferroviários, mas também com os trilhos e outros materiais rodantes. Como a ferrovia é um bem público, o seu abandonado é perda de dinheiro para o Governo e, sobretudo, para o nosso bolso.

Enquanto isso, o trenzinho – aquele de madeira ou elétrico (o ferrorama), é um dos brinquedos mais persistentes, um dos meios mais acessíveis ao mundo encantado da infância.

Do livro Memórias, a ser publicado em breve pela Zodíaco)

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