Machado Jr. Foto: Patrícia Basquiat.
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Machado Jr.
“Nós estamos por aí sem medo”, diz uma canção que estou ouvindo agora, cujo trecho dá nome a esse texto que começo a escrever. Uma canção gostosa de ouvir chamada “Copacabana velha de guerra”, composta pela Joyce e cantada por Elis Regina.
Machado Jr.
“Nós estamos por aí sem medo”, diz uma canção que estou ouvindo agora, cujo trecho dá nome a esse texto que começo a escrever. Uma canção gostosa de ouvir chamada “Copacabana velha de guerra”, composta pela Joyce e cantada por Elis Regina.
Só ouvindo muita boa música pude relembrar daquele tempo de Nós e Elis. Do mesmo tempo que levou nosso templo. Tempo dos Boêmios, das musas e dos amantes da melhor canção brasileira, dos poetas perdidos à procura de, por que não, versos livres. Da galera que vinha a pé ou de carona da UFPI, naqueles tempos da universidade, “quando a rapaziada discutia a conjuntura nacional”. Era o nosso “bar esperança” que nunca fechava pra nós e para o nosso mundo musical particular. Um bar sem paredes nem portas, só janelas sem tamanho, sempre abertas para todas as cores e para a melodia daquelas noites sem final e a harmonia que rolava entres todos que por ali habitavam. Sim, pois ninguém em sua plena consciência conseguia apenas visitar de vez em quando aquele bar e não se apaixonar por ele.
Comigo foi assim, como aquele amor platônico do adolescente tímido pela menina mais popular da escola. Eu sempre estava por ali, tomando alguma, batendo papo, mas nada de mesa; ficava sempre circulando, de olho no que rolava no palco. De olho nas mãos e nos acordes do GB (Geraldo Brito) na batera do Carlinhos, do Bebeto, ouvidos ligados nas vozes de tantos cantores e divas e no contrabaixo, minha grande paixão, sempre bem acompanhado por grandes feras como Tim Fonteles, o Robert, O Julio Medeiros, O Lima Jr. e outros tantos. Sonhando acordado me via fazendo parte daquilo tudo me imaginava naquele pequeno palco que parecia um mundo inteiro há anos-luz de distancia de quem apenas ensaiava alguns acordes com uma banda de rock de estudantes.
Não lembro como foi, nem quando eu tomei umas as mais, criei coragem, pedi uma “canja”, subi lá e mandei ver. Não; nada de extraordinário para quem já estava acostumado a ouvir os melhores tocando o melhor da MPB e da nossa MPB-PI, mas depois daquela comecei a transformar a minha paixão platônica num dos grandes amores da minha vida: a música.
Assim foi para mim aquele bar. Lá toquei minhas canções com o NOIGANDRES - eu, Marquinhos, Flávio e nosso grande Naka - quando nós tocamos pela primeira na Rádio Cidade Verde FM, e fiz todo mundo dançar com banda LUAU nos inesquecíveis domingos onde a praça virava parte do bar. Assim diz uma frase na parede de um boteco em São Paulo: porque há bares que vem para o bem. O Nós e Elis foi um desses bares.
Para o “romance ideal”, o cenário perfeito. Assim foi o meu, o seu, o nosso “nós”. Ali crescemos e celebramos, tecemos e cantamos a vida que ainda podia ser cantada, pois ela dava maior “bola” para gente. Passei pela MPB, pelo pop, rock, axé, reggae, pelo forró, nas tantas e tantas idas e vindas do bar dos bares. Conheci gente e convenci a música, tive grandes professores e muitos amores. Fui feliz e eu sabia.
Fiz canções dias e dias, “abri a porta, apareci, a mais bonita sorriu pra mim” quando acabei descobrindo a palavra-chave das minhas noites vadias. E aquele palco continua grande, inesquecível em minha memória. Nos blues de Edvaldo Nascimento, na alegria vital (e sua moto) do meu amigo parceiro Roraima, no som “tranqüilo e infalível como Bruce Lee” da guitarra do Geraldo Brito, na lembrança dos instrumentais do velho HAJA SAX e na saudade do meu amigo e mestre Netinho, que fez tanta flauta com o Zé de Boy e hoje faz muita falta. Uma geração que puxou outra, que puxa outra e assim chegamos ao hoje. E vamos nessa que o sol já vem.
Do grupo Candeia ao Conjunto Roque Moreira, a nossa música continua aí, em busca de palcos como aquele.
De “bailes da vida ou de um bar em troca de pão” e de circo também. Afinal, somos todos malabaristas. Cada vez mais firmes. Cada vez precisos e certeiros. Herdeiros do Nós e Elis. Nós estamos por aí sem medo.
DO TEMPO DO NÓS E ELIS
SOU DO TEMPO DO NÓS E ELIS
COM TANTA MÚSICA E PUREZA
DO TEMPO EM QUE O RAÍZES FICAVA
NA ANTIGA AVENIDA FORTALEZA
DE QUANDO PARA SE APRENDER ACORDES
SE OLHAVA PARA MÃO ESQUERDA DO GERALDO
A CIDADE ERA REALMENTE VERDE
MAS SEMPRE TEVE O BLUES DO EDVALDO
DE MÚSICOS TÃO RAROS
COMO ANDRÉ LUIZ E ZEZINHO PIAU
RORAIMA, BOY E JABUTI
E OUTROS TANTOS ETC E TAL
DAS GINCANAS DO COLÉGIO ANDREAS
FEITAS PERTO DO FINAL DE ANO
E DAS ACIRRADAS DISPUTAS
CONTRA O COLÉGIO DIOCESANO
QUANDO O PRÉDIO MAIS ALTO QUE HAVIA
ERA O DO MINISTÉRIO DA FAZENDA
E AS CRIANÇAS AINDA ACREDITAVAM
QUE CABEÇA DE CUIA ERA MAIS QUE UMA LENDA
DE QUANDO A GENTE AINDA CONSEGUIA
ANDAR PELOS CALÇADÕES DO CENTRO
E TODOS OS BARES DA CIDADE
FICAVAM ABERTOS NOITE ADENTRO
DO TEMPO DO FESTIVAL SETEMBRO ROCK
EM PLENO CENTRO DE ARTESANATO
DOS SANTOS DE MESTRE DEZINHO
DAS OBRAS DE MESTRE NONATO
AINDA LEMBRO QUE NUMA SALA DO ROYAL
VI PELA PRIMEIRA VEZ BRIGITTE BARDOT
POIS NO OUTRO CINEMA, O REX
SÓ PASSAVA FILME PORNÒ
À TARDE NO BAR DO SEU CORNÉLIO
QUE TINHA O MELHOR PÃO DE QUEIJO
VENDO AS MENINAS PASSAREM
SORRINDO E MANDANDO BEIJO
NO SORVETÃO OU NO ELEFANTINHO
SORVETE RUIM NÃO HAVIA LÁ
ARATICUM E BACURÍ
SAPOTÍ OU MARACUJÁ
DO TEMPO EM QUE LUIZ CORREIA
SÓ DUAS PRAIAS TINHA ENTÃO
E ATÉ A DE ATALAIA
A GENTE CHAMAVA DE AMARRAÇÃO
A OUTRA ERA A DO COQUEIRO
PRAIA TRANQUILA, DE MAIS ENCANTO
DE BARES COMO O ALÔ BRASIL
E A CASA DE GERSON CASTELO BRANCO
SE TEM ALGO QUE PERMANECEU
AGORA COMO ERA ANTES
FOI O CALOR DO B-R-O BRÓ
E SUAS TEMPERATURAS ESCALDANTES
DO PARNAÍBA À LADEIRA DO URUGUAI
DO MOCAMBINHO AO SACÍ
A CIDADE AINDA ERA PEQUENA
ERA FÁCIL ANDAR POR AQUI
EU SEI, SE PASSARAM OS ANOS
POIS SOU DO TEMPO DO NÓS E ELIS
MAS COM CERTEZA, NÃO ME ENGANO
NAQUELE TEMPO EU ERA FELIZ
Machado Jr. / Ico Almendra
SOU DO TEMPO DO NÓS E ELIS
COM TANTA MÚSICA E PUREZA
DO TEMPO EM QUE O RAÍZES FICAVA
NA ANTIGA AVENIDA FORTALEZA
DE QUANDO PARA SE APRENDER ACORDES
SE OLHAVA PARA MÃO ESQUERDA DO GERALDO
A CIDADE ERA REALMENTE VERDE
MAS SEMPRE TEVE O BLUES DO EDVALDO
DE MÚSICOS TÃO RAROS
COMO ANDRÉ LUIZ E ZEZINHO PIAU
RORAIMA, BOY E JABUTI
E OUTROS TANTOS ETC E TAL
DAS GINCANAS DO COLÉGIO ANDREAS
FEITAS PERTO DO FINAL DE ANO
E DAS ACIRRADAS DISPUTAS
CONTRA O COLÉGIO DIOCESANO
QUANDO O PRÉDIO MAIS ALTO QUE HAVIA
ERA O DO MINISTÉRIO DA FAZENDA
E AS CRIANÇAS AINDA ACREDITAVAM
QUE CABEÇA DE CUIA ERA MAIS QUE UMA LENDA
DE QUANDO A GENTE AINDA CONSEGUIA
ANDAR PELOS CALÇADÕES DO CENTRO
E TODOS OS BARES DA CIDADE
FICAVAM ABERTOS NOITE ADENTRO
DO TEMPO DO FESTIVAL SETEMBRO ROCK
EM PLENO CENTRO DE ARTESANATO
DOS SANTOS DE MESTRE DEZINHO
DAS OBRAS DE MESTRE NONATO
AINDA LEMBRO QUE NUMA SALA DO ROYAL
VI PELA PRIMEIRA VEZ BRIGITTE BARDOT
POIS NO OUTRO CINEMA, O REX
SÓ PASSAVA FILME PORNÒ
À TARDE NO BAR DO SEU CORNÉLIO
QUE TINHA O MELHOR PÃO DE QUEIJO
VENDO AS MENINAS PASSAREM
SORRINDO E MANDANDO BEIJO
NO SORVETÃO OU NO ELEFANTINHO
SORVETE RUIM NÃO HAVIA LÁ
ARATICUM E BACURÍ
SAPOTÍ OU MARACUJÁ
DO TEMPO EM QUE LUIZ CORREIA
SÓ DUAS PRAIAS TINHA ENTÃO
E ATÉ A DE ATALAIA
A GENTE CHAMAVA DE AMARRAÇÃO
A OUTRA ERA A DO COQUEIRO
PRAIA TRANQUILA, DE MAIS ENCANTO
DE BARES COMO O ALÔ BRASIL
E A CASA DE GERSON CASTELO BRANCO
SE TEM ALGO QUE PERMANECEU
AGORA COMO ERA ANTES
FOI O CALOR DO B-R-O BRÓ
E SUAS TEMPERATURAS ESCALDANTES
DO PARNAÍBA À LADEIRA DO URUGUAI
DO MOCAMBINHO AO SACÍ
A CIDADE AINDA ERA PEQUENA
ERA FÁCIL ANDAR POR AQUI
EU SEI, SE PASSARAM OS ANOS
POIS SOU DO TEMPO DO NÓS E ELIS
MAS COM CERTEZA, NÃO ME ENGANO
NAQUELE TEMPO EU ERA FELIZ
Machado Jr. / Ico Almendra
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