domingo, 1 de fevereiro de 2009

Mutirão

Moisés (jornal Meio Norte).

Anchieta Mendes

Desde menino, lá pelo desvalido interior, ouço falar em "Mutirão". Tinha conhecimento que os modestos agricultores, que não podiam pagar diárias a outros, nas plantações e nas colheitas, formavam os tradicionais "mutirões" através de que se revezavam na solidária ajuda mútua, gratuita e fraterna.

E o mutirão, nascido na roça, chega à cidade. Mutirão nos clubes, nas associações, na Justiça, na Saúde, no Meio Ambiente. A juventude engajando-se nalgumas delas. É até bonito esse trabalho que, hoje, pode ser feito por profissionais de várias instituições, pagos ou não pelo Poder Público, com a participação de voluntários.

O mutirão da Justiça tem aspectos interessantes, porque a sociedade é a beneficiada, diretamente, como no caso do mutirão organizado pelo Conselho Nacional de Justiça, oportunidade ímpar para realização de milhares de audiências em todo o país, no dia 8 de dezembro (Dia da Justiça), evento que tem surtido um extraordinário efeito social porque, além de solucionar-se milhares de problemas, com o término dos processos, alimenta-se a difícil cultura da CONCILIAÇÃO.

O Mutirão chamado Carcerário, que está sendo realizado, também sob a égide do Conselho Nacional de Justiça, tem aspecto mais delicado e complexo, porque irá avaliar a situação dos presos provisórios, que são milhares, e que, por vários motivos, especialmente por excesso de prazo, no trâmite do processo, podem ganhar a liberdade.

O atraso no andamento dos processos, notadamente os criminais, ocorre por vários motivos e por ele muitos são os responsáveis. Sabem quem são os envolvidos que podem causar esse atraso, além do Juiz? O Promotor, o Escrivão, o Oficial de Justiça, a Secretaria de Justiça ) apresentação do preso), os Defensores e, por último, os Advogados.

Concorrem para o fato, igualmente, a falta de condiçõies de trabalho aos Juízes e Serventuários a seu cargo, além da tradicional carência de pessoal e de material. A produtividade, jamais poderia ser boa. Poucos se lembram disso, antes de tecer duras críticas, notadamente à Justiça.

Se a soltura de um preso perigoso é, realmente, lamentável e preocupante, não deixa de ser conveniente avaliar-se que ele está sendo solto em homenagem ao maior bem do cidadão, que é a liberdade. A sua soltura é fruto, também, da severidade da lei penal, com a fatalidade dos prazos, não admitindo fique o acusado da prática de um delito, preso por tempo indeterminado à espera de uma sentença, condenatória ou absolutória.

Não podemos deixar de avaliar, também, o resultado negativo que esse Mutirão pode causar no seio da comunidade, diante de versos e informações desencontradas. Mas, é imperioso que nos voltemos à história, à política, à economia, à educação, até à religião, para chegarmos a uma realidade dolorosa, causadora da revolta e da insegurança, da desordem e do crime: a corrupção que assola o país.

Não se pode minorar a criminalidade se, primeiramente, não se mudarem os métodos e a maneira de governar de muita gente. Não se pode mudar nada, sem combater e superar a causa do fenômeno. E as causas do crime, eminentemente sociais, nunca foram combatidas no nascedouro. O que se vê é o exemplo que vem de cima e que é assimilado por quem está passando fome, que não teve educação, segurança, saúde, família e dignidade.

No andar dessa carruagem nacional, no meu modesto, simples e humilde entender, ainda vamos ter muito chão pela frente para mudarmos, pelo menos um pouco, essa situação. Enquanto isso, "morrem o burro e quem o tange".

Anchieta Mendes - da Academia Parnaibana de Letras.

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