sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Camilo Filho

Camilo Filho. Foto sem crédito.


Jamais me esquecerei do professor Camilo Filho. Muitas coisas pitorescas, que caracterizaram a sua pessoa, estão vivas em minha lembrança: a sua famosa gargalhada, que irrompia do ventre, com ares filosóficos, e raiava pela garganta. Saia pelos olhos miúdos e acesos, debaixo das sobrancelhas, e desembocava como uma cachoeira ressoando pelo recinto onde ele se encontrava. Era uma beleza para os ouvidos que estavam por perto.

Outra lembrança, era o charuto, pendurado debaixo do bigode, grossas baforadas perfumando a sala de aula. Suas piadas eram antológicas, seus discursos em solenidades, arrebatavam os auditórios. Declinava frases majestosas, que dizia estarem na Bíblia, e, como a Bíblia é uma vasta enciclopédia, ninguém ia conferir. A palavra do professor era uma sentença.

Foi reitor, por muito tempo, da Universidade Federal do Piauí. Começou na política muito cedo. Foi dono de jornal, historiador. Era, sobretudo, um bon vivant. Gostava de uma vez por outra quando ia fazer um comentário jocoso em suas conversas de usar as palavras: en passant. Com certeza apreciava muito a língua francesa. Pois era do tempo em que se estudava francês no Liceu.

Camilo Filho era um cidadão de direita. Passou a vida inteira no PSD, depois ARENA, depois PFL. Era um homem bom. Empregou muita gente na Universidade. Lembro-me quando o Benoni Alencar esteve preso pela primeira vez. Quando saiu da cadeia o professor Camilo lhe estendeu a mão, arranjou-lhe um emprego, um serviço para ele cuidar de sua biblioteca. Arranjou emprego também para o Evandro Setúbal, que também foi preso com a gente. Evandro trabalhou em seu jornal Opinião.

Quando fui indicado para participar do Conselho Editorial da Universidade, através da Fundação Cultural, pelo José Elias Arêa Leão, encontrei o professor Camilo filho integrando o grupo. Já não fumava mais o seu charuto. Contentava-se com um simples cigarro. En passant fiquei sabendo que ele era apaixonado pelo historiador inglês Arnold Toynbe.

Camilo Filho merece uma biografia. Seria um livro muito importante para se conhecer páginas esquecidas e interessantes da história política e cultual do Piauí. Pouca gente sabe que seu pai, que era industrial, possuía uma fábrica de cigarros em Teresina. Foi obrigado a vendê-la para a companhia Sousa Cruz.

Um grande desejo do professor Camilo Filho, que confessou para pouca gente, num momento de desabafo, era ter sido governador do Estado. Bem que merecia. Pois passou a vida inteira servindo burguesia de seu partido. Não deu. Mas, em compensação passou muito tempo mandando na Universidade do Piauí.

Camilo Filho. O ar bonachão, o sorriso maroto, a gargalhada, o charuto, os olhos miúdos, apertados debaixo das sobrancelhas, os discursos, as solenidades, o humor na sala de aula, as frases da Bíblia, as piadas, marcam para mim o retrato de um cidadão ilustre que fez história em sua província. Que a terra lhe seja leve e sua gargalhada jamais seja esquecida.

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