segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Um pecado sem perdão

Foto: Google

Montgomery Holanda

O Fantástico, da rede Globo, denunciou, neste domingo, o disseminado consumo de crack entre os trabalhadores da coleta da laranja no interior paulista. Mas, infelizmente, este não é apenas um exemplo isolado da descaracterização da vida e da atividade rural pelo país afora. Há, sem exceção, em todos os Estados brasileiros, outro vício ainda mais grave: a preguiça – prática nefasta instituída pelo governo federal, com suas políticas paternalistas e estimuladoras do ócio.

A partir da disseminação das aposentadorias de trabalhadores rurais, que jamais contribuíram para a previdência, a vida no campo vem sofrendo profundas transformações, em detrimento da atividade produtiva e da própria convivência social, modificando hábitos seculares, estimulando o ócio, como resultado das políticas paternalistas do governo federal, com o aval do Congresso Nacional.

Trabalhadores rurais após as aposentadorias, abandonaram as enxadas, largaram as plantações e procuraram moradias em cidades onde existem bancos e lotéricas que pagam mensalmente os benefícios. Não é á toa que as cidades de porte médio também passaram a inchar populacionalmente, provocando a favelização, como nas capitais.

Um agravante desta situação foi a criação de programas como bolsa-escola, vale-gás, etc.. – transformados depois na tal da bolsa família, uma esmola mensal ( à custa do meu imposto de renda descontado na fonte), que não resolve os problemas da miséria, mas que vem conduzindo as mulheres pobres para a mesma ociosidade dos aposentados. Hoje é difícil ou quase impossível conseguir uma empregada ou uma babá, uma lavadeira, uma costureira, para o trabalho doméstico. É o conformismo pela migalha do “bolsa-preguiça”.

Mas, o pior ainda está por vir: tomei conhecimento de que inúmeras mulheres em Teresina, que fizeram ligações anticoncepcioais reversíveis, como os de trompa, estão retirando os instrumentos cirúrgicos, para engravidar novamente e, com isso, além de faturar os bons trocados com o auxílio-maternidade, aumentar a “renda” com o bolsa-família.

A propósito, recordo-me que em meados da década de 70, nas minhas viagens pelo interior do Piauí, fazendo reportagens para a Veja, em qualquer restaurantezinho de beira de estrada, no meio do nada, o prato do dia obrigatório era a galinha caipira ao molho pardo, com opções de capote misturado com arroz, ou mesmo o pato. Atualmente, as aves criadas em quintais foram substituídas pelo galeto (congelado) assado. Ou seja, as famílias pobres do interior, perderam a coragem de criar as aves, até mesmo para o próprio consumo.

Estive recentemente na região de Caxias, no Maranhão, cansei de procurar azeite que babaçu e de pequi, mas não encontrei, pois as famílias estão consumindo o óleo de soja, já prontinho e engarrafado. Assim como, também, apesar da excelente safra do caju, não havia uma única castanha assada, pois todas foram vendidas aos intermediários ou trocadas por feijão, milho ou arroz, coisas que ninguém mais gosta de plantar.

Durante a minha estada naquela região, nas conversas com os moradores locais, principalmente caseiros e zeladores de chácaras e sítios, o assunto predominante dizia respeito a como conseguir se cadastrar para receber o bolsa-família.

Mas, ao contrario de quem pensa que está triste situação pode mudar algum dia, ela tende a piorar: já há projeto tramitando em Brasília, para conceder auxílio-natalidade para os pais, que não vão parir e nem amamentar.

Sem querer entrar no mérito de outras ações protecionistas e paliativas, gostaria apenas de repetir um velho chavão: “estão distribuindo peixes, sem ensinar ninguém a pescar”. É um pecado sem perdão.

(Do livro Memórias, a ser publicado brevemente)

Um comentário:

Kenard Kruel disse...

monty, vamos nos encontrar para resolver a questão do livro, que deverá ser lançado no salão do livro do piauí, quando junho chegar. beijos kenardianos.