segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Joel Silva

Joel Silva. Foto: Fernanda Dino.

Fernanda Dino e Renata Santos entrevistaram o Joel Gomes da Silva, o grande Joel Silva: 40 anos de história no radiojornalismo piauiense. Apresentador, atualmente, do programa Painel da Cidade, de segunda a sábado, na Rádio Pioneira de Teresina. Navegando, pesquei o peixe em Algumas Leituras, blog super interessante da Fernanda Dino, estudante de jornalismo e blogueira. A garota vai longe. Eu e o presidente Cineas Santos, ao contrário, nunca passaremos de Altos ou Timon. (Kenard Kruel).

Nascido na região da cidade maranhense de Caixas, em 24 de março de 1946, registrado apenas com 9 anos de idade, Joel diz ter uma “vocação” para o radiojornalismo. “A questão da vocação a gente desconhece bem a origem, de onde vem”, diz ele, que no ano de 1962 teve seu primeiro contato, de forma amadora, com o rádio. Na época, ele morava em São Luís, capital do Maranhão, trabalhava na construção civil e também em uma rádio hoje extinta na cidade. Chegou a Teresina, em pleno início da ditadura a fim de prestar contas com o serviço militar, embora não tenha chegado a servir. A primeira rádio com a qual teve contato na capital do Piauí foi a Difusora, onde foi procurar emprego, mas não foi contratado. “Foi sugerido que eu fosse para a rádio de Floriano. Precisavam de um locutor lá, mas eu disse que não, que tinha o compromisso com a questão militar. Foi um pretexto que eu arranjei”, afirma. Foi na rádio Pioneira, quando ainda localizava-se na Rua Barroso, no centro, que teve seu primeiro contato como estagiário. Isto é o ano de 63 ou 64. Estagiou durante um ano ao lado de nomes como Chico Medeiros, Orlando, Ariosvaldo Alencar, até quando um novo diretor foi nomeado e suspendeu todo e qualquer tipo de estágio. “Nós ficamos naquela desilusão, naquela depressão”, lembra. Mas um amigo, esposo de uma senhora chamada Socorro Rego, operadora de áudio na Rádio Pioneira, que também era operador de áudio, mas na rádio Clube, lhe fez um convite para o lugar onde trabalhava. “E fomos para lá e, como estagiário na rádio Clube, fui admitido também, fiquei substituindo alguns locutores. Nonato Pontes, Alexandre Carvalho.. Mas, embora o diretor G. R. Santos, diretor artístico, diretor de programação, tivesse uma afinidade com meu trabalho, dentro da emissora tinha umas pessoas que tinham influência e não me apoiavam. Então eu devo também ao Geraldo Rodrigues Santos, ele deixou em mim esse legado da garra, da insistência, da força para me manter na programação”, conta. Depois de passar um ano e meio como estagiário, acabou tendo sua minha carteira profissional assinada e, em 1965, tornou-se profissional de rádio. Lá ficou por 4 anos, retornando à Rádio Pioneira em 1969. Casado com a também radialista Ana Maria, pai de três filhos, Joel Silva poderia ser conhecido hoje por outro nome, mas não quis. “Na época costumavam chamar por pseudônimo, o Joel seria Paulo de Sousa, como Paulo Diniz, que é cantor e foi locutor aqui na rádio Pioneira, é Paulo Oliveira. Os artistas sempre tiveram outros nomes naquela década de 60, por orientação de seus diretores, não se conhece bem as razões disto, de, ao invés do nome, usar um pseudônimo”, explica. À nossa reportagem, Joel Silva faz algumas reflexões a respeito do fazer jornalístico, através do rádio, lembra momentos importantes e diz que, enquanto a partir da década de 60 viveu-se a ditadura militar, hoje, a comunicação vive sob uma ditadura econômica. (Fernanda Dino).

O que o senhor percebe de diferenças no modo de se fazer jornalismo ontem e hoje no Piauí?

Hoje há uma unificação de pautas, há uma semelhança, as pautas são todas muito parecidas. Quando você ouve uma matéria numa emissora, e aí não só no rádio, mas na televisão, e lê nos jornais e nos portais, ela tem a mesma configuração, ela tem a mesma textura. No rádio de ontem não, porque não havia possibilidade de copiar. Cada um tinha que sobreviver pelo seu talento, a fonte de informação, embora a mesma, mas, com base no seu redator, ela ganhava uma dimensão, uma proliferação, embora o conteúdo fosse o mesmo, mas tratado de forma diferenciada, porque nós tínhamos poucos recursos para estar copiando do outro. Era preciso produzir com autonomia.

E o que permanece de semelhante?

A dinâmica. O rádio de ontem e hoje tem uma dinâmica muito forte, ele é muito instantâneo, é muito imediatista. Ele tem a deficiência de não servir como documentário, mas ele contenta essa sua deficiência com a sua rapidez, pela sua velocidade e pela sua acessibilidade. Não só o comunicador, como o comunicado, estão muito interagindo, também tem isto. A interatividade que o rádio permite, que outro meio não permite. Quando o faz, não faz com a mesma rapidez.

Que fatos o senhor destacaria na cobertura radiojornalística nessas últimas quatro décadas?

O rádio e a comunicação tem mais, é mais acentuada nos conflitos beligerantes, sobretudo entre países nas guerras, nos conflitos urbanos, nos dramas, nas tragédias. Aquela do World Trade Center o rádio foi muito presente, nas guerras, tanto do Vietnã, e a partir da 2ª Guerra Mundial. O rádio, aliás, teve a sua segmentação justamente para fazer-se como uma instrumento de apoio dos combates. O que eu registraria como fato e, infelizmente, tragédia, seria o World Trade Center, são fatos que fizeram com que o rádio desse sua contribuição. Porque embora haja dentro do rádio e das comunicações como um todo um segmento voltado para a dramaticidade, para o sensacionalismo, há um grupo que vai atenuando os impactos da informação, não permitindo que essa informação extrapole a sua realidade. Nós somos muito ávidos por exagerar, e aí, o que não faz muito o meu gênero, da violência urbana, quando uma pessoa é vítima de um homicida e este lhe dispara um revólver, são dois tiros, suficiente um só para matar, mas muitos dizem que foram seis, uma dúzia... então essa coisa de exagerar não é muito da nossa afinidade, mas é uma realidade que nós temos assistido com muita freqüência. Quando nós temos a oportunidade de falar para os jovens, é que o sensacionalismo pode dar um pico de audiência, mas nós trabalhamos por uma audiência sustentável, aquela que é permanente, contínua, e eu penso até que, sem qualquer ar de arrogância, é que se não fora isso, nós não estaríamos aqui nesse sistema, na Rádio Pioneira, já passamos por algumas televisões com esse tempo todo de 39 anos, ali, devagarzinho, mas persistentemente, sistematicamente, como um atenuador.

O senhor começou no rádio na época da ditadura. Era diferente a forma de abordagem das notícias em relação àquela época e hoje?

Nós vivemos aquela ditadura e hoje vivemos uma outra ditadura. Vivemos ontem uma ditadura militar e hoje vivemos uma ditadura econômica. A ditadura militar não permitia qualquer expressão, e isso é próprio das ditaduras, que contrariasse a sua idéia. Mas tinha, também, de certa forma, algum zelo, não sei se hipócrita ou não, com a questão moral. Hoje o único respeito que a rádio, que as comunicações estão tendo é ao valor econômico. Se tem dinheiro pode tudo. É o que diferencia entre ontem, no regime militar, e hoje no regime econômico.

Que nomes importantes o senhor destacaria na história do radiojornalismo do Piauí?

Pedro Mendes Ribeiro, Dídimo de Castro, Deoclécio Dantas, Fernando Mendes, Odílio Teixeira, o pessoal dessa geração. Nós tivemos no passado Rodrigues Filho, Aulebre, José Lopes dos Santos, Valter Alencar, Henry Nelson Brasil de Carvalho, nomes assim, do rádio. Murilo Campelo, eu não trabalhei com Murilo, mas ele foi um marco importante na comunicação audaciosa que se fez mesmo no período da ditadura.

Que vantagens o rádio apresenta, mesmo diante de outros meios, como a Internet?

Embora o notebook e outros já permitam você andar com ele debaixo do braço, no bolso, mas lhe exige a necessidade do olhar, do contato visual. E ao exigir o contato visual isso se faz com exclusividade. O rádio não. Você pode, de olhos fechados, dirigindo, fazendo outra atividade, acompanhar o que está acontecendo, falando com você. A acessibilidade do rádio faz com que os outros meios não o alcancem. Quando a Internet, quando os portais estão colocando nesse sistema a comunicação, mais é preciso que o indivíduo tenha um esforço para decodificar. O próprio rádio pode fazer por você. Você de braços cruzados , deixa ali à distância. Essa facilidade, esses detalhes, esse fenômeno faz com que o rádio se torne imbatível. Se o rádio tivesse que perder espaço, já teria perdido com o surgimento do sistema FM e da televisão. Mas não. Vai se fortalecendo. Porque quando a televisão diz que vai acontecer, vai mostrar as imagens, o rádio tem ainda o fenômeno de permitir que o ouvinte faça, diante daquele evento, as imagens que lhe são agradáveis. As vezes o cinegrafista e o diretor de TV vai mostrar uma imagem que nem sempre é compatível com a expectativa do telespectador. O ouvinte de rádio faz a sua imagem.

Sobre as músicas que hoje dominam as programações nas rádios. O que o senhor acha delas?

Elas estão submetidas as poder econômico e há uma obtusidade na produção, não há cuidado, não há zelo na produção. Não há esforço para que a melodia, a harmonia, o ritmo e o movimento sejam ampliados conforme a música permite. Embora apenas nas suas 7 notas musicais, mas na amplitude de acordes, as melodias são muito limitadas e há uma exploração do duplo sentido levando para a promiscuidade de frases que degradam o sentimento das pessoas, na pureza da alma de cada qual.

Que conselho o senhor daria para quem está começando nessa área?

Ouvir as pessoas. Embora o rádio e a televisão, e os meios sejam para dar a notícia, mas antes de dar a notícia tem um fator que antecede a produção, que é a fonte. A maioria de nós, por comodidade e por falta de recursos acaba, por dever de cumprir uma grade, dando qualquer informação. ‘Eu quero é terminar isto aqui!’. E não é louvável isto, não é plausível. Embora se demore um pouco, mas ela vem com segurança, aquilo que você diz, e ouvindo as pessoas, o sentimento passional do artista ou do produtor, do apresentador, se desfaz. Quando esse sentimento passional do indivíduo enfraquece, claro que ganha o coletivo e aí é que o aspecto moral se estabelece. Ouvir as pessoas. Elas, por mais simples que pareçam, têm muito a oferecer, sobretudo para a comunicação. Porque os três elementos que são o sustentáculo da condição humana – levando para a Sociologia, para Rousseau – a esperança, o medo e a paixão. A paixão, a vontade, o querer... o medo por tudo isto... e a esperança de acontecer. Esses são os três elementos que fazem com que, embora seja da espécie humana, faz a diferença em cada indivíduo porque o elemento que me causa esperança não é o mesmo que causa para outro, cada um tem a sua razão.

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