quinta-feira, 29 de maio de 2008

Ladainha para H. Dobal

Emerson Araújo

A poesia é naco de pedra
Pedregulho nas caatingas de pele seca
Pele/sol do homem piauiense
Subtraindo das cacimbas o néctar da vida
A resistência à morte no leito de areia fina.

Mas há uma pergunta em riste: - onde anda agora o poeta que burilou a última estrela?

Conheci a construção poética dos carnaubais nos bancos escolares
Refleti sobre os temas das cabras em noite de lua cheia antes da chuva temporã
Ruminei luz de corisco no olhar
Dissequei a frase substantiva entre esterco e curral
Fui me tornando cantor desta gente pobre, nestes rincões de veredas e quintais
Sob a bênção da poesia estéril, necessária, não panfletária.

Mas há outra pergunta em riste: - onde está agora o poeta que regou pó de carnaúba em todos os papéis?


Agora é tarde de maio, anúncio de um outro estio
Palavra em alguidar de farinha seca e melaço de cana
Asas de poeta em nuvens de algodão
Plumas de verão sobre as gameleiras
E o poeta em seu réquiem
E o poeta em seu novo curral no céu.

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