É assim, feito japonês, que peço a Nara
que saia da história da nossa música popular,
que renuncie a ser demarcadora das diversas fases de ouro dessa mesma música,
que deixe de lado sua vocação natural de garimpar os mais recônditos cristais
da nossa criação musical.
Mas ela, teimosa e determinada,
como foi em vida,
se instala definitivamente na minha lembrança
como um anjo de sorriso largo e dentes enormes
pousado em minha alma,
separando o joio do trigo, premiando a autenticidade e a ética.
Nara, leonina, gritando sua opinião na fuça dos ditadores;
Nara ao lado dos sambistas desconhecidos dos morros cariocas,
Nara divulgando a recém-inventada bossa nova,
Nara, desafiando patrulhas ideológicas e cantando a jovem guarda,
Nara abençoando o tropicalismo ao pousar na capa do disco que deu nome aos bois;
Nara, já madura e consagrada, em desassossego, declarando seu romance popular com os novos nordestinos.
Isso tudo é pra dizer: Nara, depender da sua voz, o carnaval há de chegar.
Climério Ferreira
Fonte: Portal do Sertão
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