quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

homenagem a Nara Leão

É assim, feito japonês, que peço a Nara 
que saia da história da nossa música popular, 
que renuncie a ser demarcadora das diversas fases de ouro dessa mesma música, 
que deixe de lado sua vocação natural de garimpar os mais recônditos cristais 
da nossa criação musical. 
Mas ela, teimosa e determinada, 
como foi em vida, 
se instala definitivamente na minha lembrança 
como um anjo de sorriso largo e dentes enormes 
pousado em minha alma, 
separando o joio do trigo, premiando a autenticidade e a ética. 
Nara, leonina, gritando sua opinião na fuça dos ditadores; 
Nara ao lado dos sambistas desconhecidos dos morros cariocas, 
Nara divulgando a recém-inventada bossa nova, 
Nara, desafiando patrulhas ideológicas e cantando a jovem guarda, 
Nara abençoando o tropicalismo ao pousar na capa do disco que deu nome aos bois; 
Nara, já madura e consagrada, em desassossego, declarando seu romance popular com os novos nordestinos.
Isso tudo é pra dizer: Nara, depender da sua voz, o carnaval há de chegar.

Climério Ferreira 

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