Arte by Dino Alves.
marcelo evelin
e não é que deu o maior orgulho de caminhar com os estudantes de teresina pela avenida frei serafim! pois deu. a coisa começou a bombar cedo no facebook: os flyers com a cara do prefeito, as chamadas pra aderir, o intuito de conscientizar o cidadão de que agora nao era mais sobre o aumento da passagem, mas sobre um tipo de violência exercida sobre um direito… e aí entramos todos nos. e claro que sabemos que nao justifica queimar ônibus, que essa é sim uma violencia destrutiva sobre si mesmo. mas sabemos tambem que jovens sempre existiram e esperamos que continuem existindo, e que esse rompante de revolta da juventude continue a se acender para quem sabe clarear novos caminhos.
a coisa foi tranquila, todos cantavam, batiam palmas e gritavam as palavras de ordem. alguns estavam com a cara pintada ou nariz de palhaço, outros com cartazes e bandeiras, e uma faixa verde atravessando a avenida fechava o cortejo. e digo cortejo porque se pode ver assim também – nesse amalgamado de gente – uma mistura de sacro com profano, político com carnavalesco, Irã com Woodstock, love parade com caminhada da fraternidade. a coisa é que eu sou doido por gente junta, gosto muito quando gente se mistura sobretudo em um lugar- fenda, uma brecha que se abre no cotidiano e que interrompe a ordem porque precisa se dar.
e pensei em maio de 68 e em como o mundo era diferente então. as questoes outras mas talvez em niveis e proporções distintas eram as mesmas. vejo os cartazes de 68 e o que diz “nous sommes tous indesirables” (nos somos todos indesejáveis) poderia ter sido criado hoje. mas acho que o sorriso do estudante no cartaz nao teria esse brilho de longínqua, mas viva esperança. porque o mundo se dividiu entre “desejaveis” e “indesejáveis” com o agravante desses pólos serem frágeis e estarem o tempo inteiro se desequilibrando, e a vida real sendo cada vez mais considerada como “indesejável”.
e não é mesmo ali no meio da muvuca que se esbarram todo tipo de indesirable? porque tinha de tudo: estudantes neo-tropicas, clubes, chiques, gays, muitos gays, idosos, casais, secretárias, office-boys, gente vendendo cerveja, gente com cara de gringo com aquelas máquinas pauzudas, os feios, as gostosas, os pobres, os fitness, os professores…e aqueles muros formados por policiais fardados, que por sinal hoje foram bem pacíficos.
nessa coisa de gente se juntar espontaneamente por motivos diversos – mas ancorados em uma situação politica comum – tem algo muito importante de celebração e rito de passagem, mas sobretudo empoderamento do indivíduo sendo/estando inserido no coletivo, no que é comum subjetivamente, no que é de todos e todos possuem o direito de reclamar para si. e esse ajuntamento hoje - no fim da tarde pegando fogo de teresina e na beira do abismo dos meus 50 anos – me deu a confiança de que jamais seremos os mesmos, mas sempre poderemos ser diferentes.
ao alcaide que tumultua a própria cidade
Renato Zagrel
Herdeiro de trono alheio,
se acha rei ou ditador,
pensa ser dono de feudo:
prefeito sem eleitor.
Desintegrando a ordem pública,
esquecendo o ano passado,
tocando a mesma balbúrdia
tropeça no próprio passo:
errar uma vez é humano,
errar toda vez é Elmano.
Subtraído de: ÁgoradaTaba
marcelo evelin é coreógrafo.
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