terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O triste destino das livrarias e do próprio livro

Na era do e-book.


A era digital veio para ficar, com todos os seus traços benéficos e maléficos. Agora, os seus primeiros golpes se voltam para o papel escrito. Não respeitou os antigos, nem a chegada da imprensa graças a Gutemberg. Pergaminhos, nem se fala. Tudo virou História e museu.

Agora, o que impera é o monitor, as telinhas dos mil gadgets da tecnologia de ponta Aos poucos, nos vamos acostumando com os novíssimos tempos de uma modernidade que se eterniza e dá as costas para o tempo e as divisões múltiplas culturais, os períodos, os anos, os séculos, as eras, o calendário, o relógio. Pra que agora se preocupar com a ampulheta, se temos, diante de nós, o tempo intemporal, as galáxias num universo que, segundo os cientistas, cresce a passos largos (ou a passos lentos?).

Não me importo com a objetividade de afirmações pouco objetivas. Sei dos meus limitados conhecimentos racionais. Quero, antes, a sensibilidade, moeda forte que anda esquecida nos corações humanos. É feio, é insensato, coisa de mulher alguém, em tempos correntes, mostrar-se sensível, sentimental, amoroso, delicado. Iriam tachar esse “alguém “de pouco viril ou de outros epítetos preconceituosos.

Esta notícia que nos vem pela imprensa – que ironia das coisas! – de que o e-book vai tomando o lugar privilegiado do livro impresso vem como uma bomba na cabeça dos bibliófilos e bibliômanos, dos bookwoms. Coitados de nós, que amamos tanto o pegar num livro, folheá-lo, fazer anotações a lápis nas margens, sublinhar o que nos chama a atenção, sentir o cheiro do papel, velho ou novo, ver a capa, tocá-la, ver as suas cores, as ilustrações, a contracapa, as orelhas, senti-las materialmente, ver o tamanho dos tipos impressos, examinar o livro em todos os seus aspectos físicos, ângulos, levá-lo para a cama, para o sofá, para um canto recolhido da casa, buscá-lo na prateleira, ver-lhe a lombada. Ah, nada mais agradável do que o livro impresso! Nada mais precioso do que ter uma biblioteca. Que solene! Amei sempre as bibliotecas, as particulares, as públicas. Não sei como seria o mundo futuro sem a condição secular do livro impresso.

Na minha visão profética (quanta audácia minha!), vejo seres mecanizados, apressados, sobraçando e-books, insípidos, sem requinte, sem nobreza, sem linhagem, sem nada. Lá estão no futuro aqueles homenzinhos abrindo seus aparelhinhos digitais, lendo as obras dos grandes escritores de todos os tempos ou de nenhum tempo, os bons, os médios, os ruins, os best-sellers, satisfeitos de seus livros virtuais, somente preocupados com o sinal eletrônico avisando-os de que, a qualquer hora, a bateria acabará. Mas, há a eletricidade, a energia, para recarregá-lo em algum lugar onde exista um tomada. Já o livro impresso prescinde de tudo isso. Se com ele tivermos cuidados, dura muito tempo, até séculos, ainda que, como os seres humanos, envelheçam e se estraguem.

Ontem, vi na tevê e, depois, no jornal, que em Nova Iorque, as livrarias estão fechando as portas, ou seja, como dizia o aviso nas portas das livrarias: “... out of business”. Oh, triste destino das livrarias. Aqui no Rio de Janeiro, uma conhecida livraria portuguesa, a Camões, está fechando, ou já fechou as portas. Lamentável! Um proprietário de sebos no Centro do Rio me havia dito pouco tempo atrás que os sebos e as livrarias estavam diminuindo. Boas livrarias, como a Martins, também fecharam suas portas na filial do Centro carioca. Novos tempos, novos problemas.

É bem provável que o livro impresso, se resistir no futuro, será adquirido só por milionários dado o altíssimo preço que terão. Entraremos na Idade Média das publicações, só acessíveis à nobreza.

Assim anda a roda do tempo. A força da maioria prevalecerá. Para os leitores do futuro serão os e-books tão normais quanto para mim e outros agora são as obras impressas. Nos tornaremos pré-históricos para tais leitores. “O quê, livro de papel, que é isso, quando houve esse tempo?,” refletirão atônitos os leitores dos futuro.

As grandes bibliotecas de agora virarão novas alexandrias, só que digitalizadas. No entanto, os velhuscos livros do passado, ainda atualmente existentes, durante algum tempo indeterminado do futuro, deixarão de existir. Não resistirão ao tempo devorador da matéria.

Não estaremos vivos para conferir tudo isso, nem os que nasceram agora. Seremos passado como o são os gregos antigos, os latinos, os povos do Oriente. A História, esta “mestra da vida” segundo Heródoto, será armazenada em “ bibliotecas” gigantescas digitais, que, por sua vez, tomarão outros espaços, tal como as bibliotecas do nosso conhecimento, porque tudo tem limites, até para caber a História da Humanidade.

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