segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Uma história com muitas histórias

Emerson Boy. Foto de Kenard Kruel.

Emerson Boy

Era isso mesmo, um lugar mágico, iluminado de emoções e sonhos. Templo de discussão literária, filosófica, política, mas, principalmente, um oásis musical de primeira qualidade, onde o músico e a música piauiense deram um salto de amadurecimento e qualidade. Discussões políticas acirradas, muitas delas apaixonadas e deslumbradas, movidas a um bom conhaque ou a uma boa cachaça, mas pensando sempre num país melhor. O povo brasileiro saia às ruas soltando toda sua ira contra os militares, os profetas do atraso e contra os arautos da mediocridade. Aqui dominava uma corja de corruptos e incompetentes, que ainda acreditavam que a lei da porrada era a da vez. Chegaram a bater em Peinha do Cavaco, que no auge de liberdade numa noite, cantarolou uma canção citando o nome de um político sujo.

Era isso mesmo, no Nós e Elís nos realimentávamos de brasilidade e de uma busca de felicidade saudável a qualquer ser humano vivente. Netinho da Flauta e Eu tocávamos umas canções bem humoradas, sintonizadas com o humor feito por grupos nacionais, como Língua de Trapo, Premê, Espírito da Coisa, Tim Rescala, uma espécie de crônica, com personagens do nosso cotidiano. Era passagem para UFPI, onde estudava e era militante do Movimento Estudantil, naquele momento com muita expressão nacional, e, na volta pra casa, não dava outra, assinava o ponto. Ao mesmo tempo começava uma carreira artística com uma Banda chamada "HAJA SAX" (Julio Medeiros, André Luiz e Bebeto), que buscava um som instrumental jazzístico, com sotaque brazuca e incrível, era um som que atraia muita gente e uma legião de fãs, fiéis e interessados na nova música piauiense.Ao mesmo tempo ouvíamos vez ou outra, alguém falar: “que diabo é isso?” – alguns não entendiam como um som instrumental era aplaudido daquela forma. A música piauiense procurava um sotaque e existia uma platéia que se identificava com isso.

O balcão era meu lugar preferido, meu e de um monte de brancaleones, até porque era atendido mais rápido e era lá que encontrava o supra sumo dos "antipáticos" do bar, aqueles habituês de carteirinha e que sempre tinha uma boa lorota pra contar. E era de lá que ficávamos torcendo por tropeços quando alguém ia ao banheiro ou caía no "bebódromo" (nome dado por Netinho da Flauta a um laguinho que tinha lá e era um perigo pra bebuns) o que sempre acontecia e eu e o Netinho aproveitávamos o fato e pediamos - "trás uma daquelas que o cara bebeu, mermão", e era aquela algazarra. A Denise (Rê Bordosa – azarava tudo que era garçom), Toni, Ângela, Maria do Carmo Veloso, Beto Pirilampo, Sabóia, Fabinho, Dantas, Paulo Moura, Raimundo, William, Wellington Dias, Rosa Silva, Viriato, Rubens Lima, Fátima Lima, Barretão, Wellington Soares, Lucila, Trindade, Margareth, Maria Alice, Carlinhos Vassoura, Berna, Fernanda Micaela, Sirley, Rosinha, Fifi, Machado Jr, galera do Candeia, Roraima, Julio Medeiros, Paulo Batista, entre outros, eram algumas das pessoas que elevavam a temperatura do “Nós e Elis”.

Tinha um garçom “vagabundo”, dos nossos, que sempre salvava e, meia galera do balcão saia pra dar uma volta pelo quarteirão e voltava falando mais que cigana lendo mão de freguês. Sentávamos num banquinho ao lado do balcão e ficávamos viajando no show de raio laser que só o céu de Teresina tem, prenunciando aquele temporal.

É, mas a vida é isso, ela guarda, acumula, transborda. Qualquer hora, qualquer dia quem sabe, soltando uma pipa, solfejando aliterações, perambolando pelo mundo, reencontro aqueles goles, aqueles porres memoráveis que me permiti, com o orgulho que só os canalhas admitem. E como diz o poeta Willian Soares: “contiuo andando nas ruas, com meus passos lentos, madrugada adentro, meu olhar atento... um gole aqui, um gole ali... por que sei “que a vida é para quem renasce o tempo inteiro.”

Um comentário:

Anônimo disse...

Agora o caldo de cana emborcou de vez...