terça-feira, 29 de setembro de 2009

Nós & Lendas & Mitos & Elis

Zezé Fonteles (PH Ricardo Black).

Zezé Fonteles

A impressão que tive à primeira vez em que entrei no Nós&Elis foi a de um pequeno oásis. Impressão dada pela atmosfera criada pelo laguinho (também batizado de "Bebódromo"), pelas plantas decorativas e pelas árvores em volta, pensei eu - só mais tarde entendi que essa aura era o reflexo mágico da Música, da Arte. Meu querido amigo e conterrâneo parnaibano Elias Ximenes do Prado Jr. como apreciador de boa música e conhecedor de cachaça tinha acertado no alvo ao criar o Nós&Elis, que a partir de então tornou-se imprescindível na cena artística local. Daí, quando mais tarde Elias nos propôs, às minhas irmãs [Rita e Nasaré] e à mim, que assumíssemos a administração, não foi nada difícil aceitar e me sentir em casa.

Mas, só a título de lembrança, as coisas nunca foram perfeitas no Nós. Ora era o banheiro masculino que entupia e um cheiro (tudo, menos bom!) invadia o salão e o palco. Ora era a cozinheira que não era boa e as comidas eram intragáveis... O palco do Nós&Elis, tecnicamente falando, era uma catástrofe. Acusticamente mal projetado (qualquer tentativa de equalização dos instrumentos e vozes era prontamente coroada por um interminável concerto de apitos) e fisicamente mal construído (sendo a distancia entre as tábuas do piso tão grande que o salto dos sapatos entre elas frequentemente ficavam enganchados e onde iam parar também palhetas, plugs de guitarra, conectores e toda sorte de miudezas para desespero dos músicos, que nem sempre tinham consigo peças sobressalentes). Uma verdadeira praga, mas onde poderíamos nós nos sentirmos em um palco mais à vontade que no palco do Nós&Elis? A platéia era certa, atenta (quase sempre), amiga e não economizava aplausos - não importa quem cantasse (ou se à capela), quem tocasse (não somos todos nós aprendizes?) , quem rimasse (mais um verso subversivo?) ou encenasse (de ator e de louco também tenho um pouco)... Nesse ponto, citar nomes seria dimensionar..., subdimensionar...

O Nós&Elis foi "o espaço"! E como um dos mais importantes locais de sua época, fez história e em torno dele criaram-se lendas e mitos. Numa dessas histórias diz-se que os clientes do Nós&Elis sentiam-se tão bem que ao irem embora levavam consigo o copo do último drink, como lembrança (isso viria a esclarecer o fato de semanalmente precisarmos comprar nova leva de copos e taças).

Uma lenda muito divertida conta que a atmosfera do bar era tão amigável e relaxante que o nosso grande compositor e músico Geraldo Brito (Desculpa aí, GB!) conseguia até mesmo tirar um cochilo durante suas apresentações. Outro mito difundido (provavelmente saído como tantas outras histórias da época, de um conhecido endereço na Rua São Pedro) era que o Bar Nós&Elis faturava rios de dinheiro.

Tudo isso mostra que o Nós&Elis, mais que um bar, foi motor, moto e lastro. Ao tempo que fomentou e desafiou o imaginário popular.

Lembrar do Nós&Elis, dos tempos do Nós&Elis. Primeiro pensei: "Pra quê? E ser atropelada por uma avalanche de recordações nem todas boas?" E, olha, não condeno minhas irmãs por não se animarem com a idéia de escrever um texto sobre. Mas então, num átimo, fui de novo dominada pela "febre Nós&Elis"!

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